Sito ufficiale

Mese: Dicembre 2017 Pagina 2 di 3

OS CONTOS DO DESPERTAR PARA MENINAS E SUAS MÃES – Rosaura a Sábia

Rosaura a Sábia

Devana

Rosaura: disegno originale di Manuela Biave

 

Em uma terra feliz, nasceu da jovem rainha reinante, uma formosa menina, viva e saudável. Nessa terra eram as rainhas quem conduziam o povo, e todo o mundo estava contente e tinha o suficiente para viver comodamente em função de suas necessidades. Cada vez que nascia uma menina, sempre este evento se aclamava como uma grande fortuna. Si ademais a menina fosse filha de uma rainha reinante, as pessoas ficavam muito felizes, já que esse fato garantiria a continuidade do reinado de uma mulher treinada e preparada desde sua infância, para sua tarefa futura. E este foi o destino de Rosaura: nome que lhe puseram porque nasceu no amanhecer do primeiro dia de primavera. No momento exato quando sua pequena cabeça se assomava pelo ventre de sua mãe, o céu estava cor de Rosaura, anunciando um dia de sorte, ensolarado e cálido. Para preparar a herdeira do trono para seu papel de liderança, foram convocados pelos quatros rincones da terra as sete Sábias, que teriam a tarefa, e a honra, de guiar a princesa.

Estas sete mulheres de grande inteligência, profunda cultura e experiência chegaram ao palácio depois de cumprir se três vezes treze luas, desde a cerimonia da agua, com a qual se recebeu a Rosaura na comunidade.  As avós Sábias levaram a princesa ao bosque, em uma cabana que só se utilizava para a formação das princesas, enquanto que sua mãe a via desde a grande janela distanciar-se de sua casa com um pouco de tristeza. Rosaura viveria com as boas avós, no bosque, por treze vezes treze luas. Logo voltaria ao palácio para guiar seu povo, primeiro junto a sua mãe e depois, uma vez que se sentisse preparada, sozinha.

As sete Sábias se chamavam: Assiotea, Hipatia, Lastenia, Hildegarda, Brida, Myriana e Gabriela. Assiotea era a mestra de todos os fenômenos da natureza e sabia dos nomes dos espíritos guardiãs de todos os lugares. Hipatia conhecia os movimentos das estrelas, do sol e da lua. Lastenia dançava, cantava, conhecia cada música e todos os sons da natureza. Hildegarda tinha o conhecimento das ervas e fungos que lhes permitiam viajar a outros mundos sem o corpo, também conhecia receitas que curavam todas as doenças. Brida era a mestra do xamanismo, sabia a cerimônia adequada para tudo e, com o seu tear, tecia tapetes com fios encantados que ajudavam a memorizar as histórias sem esforço. Myriana era esperta na alquimia, ele podia criar poções, obter metais valiosos de pedras e chegar ao lugar onde a mente fica em paz. E finalmente Gabriela era a mestra da poesia e, frequentemente ajudava a Lastenia na criação de canções doces e comovedoras que encantavam a todos os seres vivos e serviam para recordar as grandes e pequenas ações.

Rosaura estava contente com as sete avós. Sua vida estava cheia e alegre, as sábias mulheres a ensinaram como acostumar-se a manter o sorriso, apesar do peso da responsabilidade e da quantidade de estudo que tinha que enfrentar todos os dias. De vez em quando regressava ao palácio para passar um curto tempo com seus pais. Mas a maior parte do seu tempo estava cheia de aulas e horas de prática, ademais dos passeios no bosque com Assiotea e Hildelgarda , que ela ensinavam a reconhecer as ervas e os lugares de poder, onde regressava depois com Brida para celebrar um ritual ao Espirito guardião ou com Lastenia e Gabriela para bailar e cantar no meio das arvores, invocando as Sagradas Presenças da mãe Natureza. Pela noite, frequentemente, ficava fora, envolta em uma manta quentinha para escutar a Hipatia, quem descrevia as influencias celestes na vida terrestre e a forma de exploração das mesmas em beneficio do seu povo.

Um dia, para escapar de uma tormenta, se refugiou em uma cova que havia descoberto durante seus passeios diários no bosque. A cova, em que nunca havia entrado antes, estava no outro lado do rio, que gostava atravessar descalça, inclusive no inverno. Dentro estava escuro. Ficou de pé para acostumar os olhos a escuridão e quando isso aconteceu se deu conta que estava exatamente no meio de restos de um circulo de pedra, dentro do qual, de um lado havia o que parecia um forno de barro de dois andares onde se podia reconhecer o local do incêndio na cavidade inferior e o das panelas no nível superior. No canto oposto, Rosauraura viu os restos de um tear de formato estranho, com troços de fios tecidos ainda fixos. Sentia-se irresistivelmente atraída pelo tear.

Pegou o suavemente e se sentou com as costas apoiadas em uma rocha e com os olhos fechados.

De repente, se projetou como em outro tempo.

Sempre estava na cova, mas… Que maravilha!!!

As paredes estavam cobertas com tapetes de cores e também o chão. Em todas as patês se queimavam azeites em potes que iluminavam a grande cova, como se fora a sala do palácio. Haviam mulheres muito bem vestidas embora suas roupas eram de uma forma que Rosaura nunca tinha visto. Pareciam estar celebrando algo. Todas bailavam e cantavam. Algumas tocavam a pandeireta e outros instrumentos que pareciam os sons da natureza.

A visão durou poucos minutos

– Mas, quê estranho… – Rosaura pensou – Me parece que… Essa fada maravilhosa esta me olhando, parecia que… Me vê!!

De fato uma das mulheres da visão, a que parecia ter mais autoridade entre todas, percebia a Rosaura como se estivesse realmente ali com elas. Ela a olhou e nesse momento Rosaura se sentiu sugada para trás e se encontrou na escuridão com as costas apoiadas na rocha, molhada e tremendo, agarrada a um velho tear. Correu para sua casa para contar a história às avós, que depois de escutarem em silêncio até a última palavra, decidiram que ao dia seguinte fariam todas juntas uma visita a misteriosa cova. E assim foi. Ao dia seguinte o sol brilhava e Rosaura acompanhada pelas sete avós foi até a cova depois do café da manhã.

O tear estava todavia no chão onde o havia deixado a noite anterior. A mestra Brida foi a primeira em reconhecê-lo na escuridão e se aproximou com precaução, segurando o em sua mão como uma relíquia. As outras mulheres se colocaram ao redor dela e juntas começaram a cantar e a invocar, movendo se em círculos, a antiga presença das mulheres que haviam vivido em esta cova.

Depois de um tempo apareceu a cena que Rosaura já havia visto anteriormente. Mas, desta vez as dois se fundiram em uma só e, como se o tempo houvesse sido cancelado, as sete Sábias e a princesinha se encontraram junto com as mulheres antigas, justo em meio a festa que estava dando em este quarto. A mulher que no dia anterior havia olhado para Rosaura se aproximou e falou. Era muito alta e tinha um penteado complexo de cabelo castanho que formava como uma coroa. Olhou aos olhos e lhe segurou as mãos.

– Sou Tara – disse – manifestação vivente da Grande Deusa Mãe.  E você é a que foi enviada para aprender a magia dos tapetes.

Tampouco Rosaura nem as sete mestras entenderam a mensagem. Tara a continuação, lhes ofereceu uma bebida doce e densa, que abriu suas mentes e lhes ajudou a ver longe. Começou a explicar

– Quando vivíamos em esta terra, minhas irmãs e eu praticávamos a sagrada arte de tecer que aprendemos diretamente da Deusa Mãe. Políamos em pó fino as pedras preciosas que encontrávamos caminhando nos tuneis da terra. Logo juntávamos a resina e a sávia e com esta porção tingíamos a lã de nossas ovelhas. A lã filada e tingida a continuação, criava nossos tapetes mágicos que tinham a possibilidade de atravessar o espaço e o tempo para nos levar onde queríamos, a encontrar irmãos e irmãs do passado e do futuro. Rosaura você foi chamada a este lugar para levar ao mundo dos vivos, este conhecimento antigo. Mas, para consegui-lo você terá que enfrentar uma dura prova. Como você se sente?

– E que posso fazer? – Perguntou Rosaura um pouco assustada.

– Vai ter que beber uma porção que te fará dormir em esta cova durante 28 noites e 28 dias sem parar. Durante este tempo de sonho se te revelaram os segredos dos nossos tapetes, de tal modo que se possam escrever para transmitir a sua mãe e a suas mestras. Poderás tecer um tapete magico que te permitirá viajar em todo o tempo e lugar, como nós fizemos. Estas de acordo?

– O desejo de conhecimento é mais forte que o medo – disse Rosaura.

Assim Tara se aproximou da mestra Hildegarda e lhe explicou como preparar a porção usando o fungo Amanita Muscaria, a planta Muérdago e a raiz  Mandrágora fervidas. Depois, a visão começou desvanecer-se. Em pouco tempo, a cova se tornou escura, Rosaura e suas mestras se encontraram novamente sós.

Voltaram para casa e esta mesma noite preparou-se todo o que necessitava para a princesinha entrar em seu largo sonho. Cada uma das sete Sábias, queria dar um presente . Hildegarda preparou a porção e a adoçou com dourada mel. Brida lhe deu uma manta quentinha que ela mesma havia tecido, para que se envolvera bem e não esfriasse, Gabriela  e Lastenia compuseram uma canção para acompanha-la enquanto ficasse dormindo. Hipatia invocou para que as estrelas fossem propicias e Assiotea  fez o mesmo com os espíritos guardiãs da cova. Finalmente Myriana lhe ensinou a separar sem dor seu corpo de sua mente, para viajar rapidamente na visão.

Rosaura com estes presentes entrou na cova a noite seguinte. Encontrou uma grande rocha que se semelhava a uma cama, se envolveu com sua manta quentinha e depois de invocar a proteção dos espíritos e da Deusa Mãe, bebeu a porção. Se tumbou na rocha e ficou profundamente dormida.

Viajou sobre as montanhas e oceanos, sobre os telhados dos edifícios e as imensas pastagens. Ao final da viagem, se encontrou de novo na cova junto a Tara e suas irmãs tecendo. Quedou se com elas 28 dias no passado, enquanto seu corpo dormia no presente. Aprendeu a moer pedras para tingir a lã e tecer com os nós dos desejos, acompanhando com a respiração os movimentos das mãos. Quando havia memorizado tudo. Tara lhe abraçou.

– Agora que já sabes como fazer, podes tecer você mesma seus próprios tapetes de viagem e vir aqui sempre que desejas. Utiliza este conhecimento para o bem de tua gente. Graças ao tapete mágico, pode buscar respostas e conhecimentos em cada lugar e isto lhe ajudará a ser uma boa rainha e uma boa guia para seu povo.

Rosaura agradeceu a formosa mulher e ele começou a deixar-se atrair pelo seu corpo deitado na rocha. Quando acordou, encontrou ao redor as boas avós que estavam esperando seu despertar. Haviam trazido pergaminhos e tinta para escrever de imediato os segredos da arte magica de tecer, para que não se esquecera. Com este largo sono, Rosaura havia terminado sua aprendizagem, de modo que agora estava preparada para voltar ao palácio e tomar seu lugar junto a Rainha, sua mãe.

Os rolos de pergaminho foram depositados na biblioteca com todos os honores e desde então aquela terra que já era feliz, foi ainda mais, pois, Rosaura e suas herdeiras teciam tapeçarias maravilhosas para viajar entre os mundos.

Texto escrito por Devana

Traduzido por Helena Pinheiro Bastos

Ilustração Manuela Biave

OS CONTOS DO DESPERTAR PARA MENINAS E SUAS MÃES – Cinzinha

Cinzinha

devana

Cinerina: disegno originale di Manuela Biave

Serena era uma criança desperta e inteligente. Tinha longos e lindos cachos castanhos que descansavam sobre seus ombros. Gostava de acender o fogo e ficar junto à chaminé e, para fazê-lo, tinha um sistema muito peculiar que consistia em convidar o espírito do fogo, pedindo para ele que se manifestasse diante dela. Por isso, sua mãe, que se chamava Verdade e era amorosa e amável, havia lhe apelidado carinhosamente de Cinzinha, e lhe permitia, apesar de ser pouco mais que uma adolescente, que cuidasse do fogo, em lugar dela mesma fazê-lo.

Cinzinha tinha uma relação especial com todos os espíritos da natureza, tanto os dos animais, quanto os das plantas, folhas ou flores, pedras ou espíritos protetores de lugares. Comunicava-se especialmente com a água e o vento, sempre cantava e gostava de pôr os pés descalços, inclusive no inverno, na pequena poça debaixo da doca no fundo do jardim.  Cinzinha, também sentia o espírito da Terra, ao que honrava oferecendo os restos de comida (as vezes um pouco mais), para seus amigos os ratões que viviam em uma grande colônia no jardim, debaixo das raízes de um Carvalho gigante.

Tinha duas irmãs gêmeas, cujos nomes eram Martina e Carolina que adoravam os vestidos e os sapatos. Passavam o dia frente ao espelho, vestindo-se e imitando a modelos de passarelas. Seus únicos interesses consistiam em reclamar posse de tal ou qual vestido, calçados ou capas.

-Esta é minha – podiam-se escutar os gritos da casa grande.

-Não é minha…

-Não…

-Sim…

-Não…

-Sim…

E assim durante todo o dia. A Cinzinha lhe dava igual, inclusive emprestava suas roupas com carinho, pois, gostava de compartilhar suas coisas. Ela passava seus dias caminhando na natureza, falando com seus amigos animais, lendo, estudando, aprendendo com sua mãe a tecer, a cozinhar e cuidar do jardim. Pela noite se sentavam as quatro na grande varanda e cantavam as canções antigas das avós.

Um dia, ao entardecer, Cinzinha foi, como de costume,  levar alimentos aos seus amigos os ratões, mas, havia alguém a esperando. Sentada em uma grande raiz, que sobressaía da terra como um tamborete, havia uma mulher coberta pro um abrigo de pele de ratos cinza e uma máscara de ratos no rosto. Ao aproximar-se Cinzinha, a mulher tirou a máscara e lhe indicou que se sentasse a seu lado. A menina não sentiu medo nem por um momento, porque pensava que era um espirito protetor do Carvalho. Quando a mulher tirou a sua máscara, seu rosto revelou uma idade indefinível, os olhos tinham uma expressão profunda e sábia, de alguém que viveu, viajou e estudou muito.

-Tu és Cinzinha, a amiga dos ratões?

-Sim, sou eu.

-Boa noite, menina afortunada. Vim te levar para conhecer a grande comunidade em que vivem seus amigos, aqui embaixo dos nossos pés, entre as raízes desta avó planta. E precisamente esta noite ao entardecer haverá um grande baile ratoneiro em homenagem a Primeira Madre dos ratos, siga-me.

Cinzinha, entusiasmada, pediu a mulher do Carvalho que esperasse enquanto ia avisar para sua mãe. A mulher esperou com paciência, havia sido a mestra de sua mãe e de sua avó. Foi ela quem lhes ensinou os segredos das plantas, flores e a ver a magia do jardim e do bosque.  A menina correu de volta em direção a misteriosa mulher, acompanhada por sua mãe. Assim, enquanto as duas mulheres trocavam uma olhada de amizade, Cinzinha pegou a mão que lhe oferecia e começou a sentir-se cada vez menor e menor, enquanto seguia a mulher ao longo da raiz do grande Carvalho que conduzia a entrada da comunidade ratoneira.

Quando entrou através do portal da grande comunidade ficou sem fala pela beleza e limpeza do grande clã dos ratos. Nunca havia esperado, tendo em conta o que dizem dos ratos no mundo da superfície, de descobrir uma verdadeira cidade subterrânea, onde uma grande sala central, seca e perfumada de musgo, saiam muitas pequenas tocas acolhedoras cavadas no solo em diferentes níveis. Ratinhas e ratinhos estavam ocupados em levar e guardar em uma grande sala armazém, toda a comida que se recolhia, para ser compartilhada por todos os membros da comunidade, cada um, segundo seu tamanho.

Ninguém ficava sem comida nem sem refugio, ninguém tinha fome, ninguém se sentia só, porque a comunidade funcionava como um só corpo que seguia a lei da primeira Madre Rata, que lhes havia ensinado, e que transmitiam de geração em geração, a comportarem-se como irmãos e irmãs. Na grande toca central ardia um fogo azul prata, um fogo mágico invocando o espírito da Avó Rata, ao redor do qual havia ratos dançando e golpeando ritmicamente com as patinhas, cascaras de nozes como se fossem tambores. Os ratos estavam cantando em homenagem a sua antepassada que lhes havia ensinado a viver em abundância.

Cinzinha foi abordada por um amigo especial, o rato Gervásio, quem a acolheu festivamente convidando-a a segui-lo durante o percurso completo pelo grande multi-toca da comunidade ratoneira.  A menina foi recebida em buracos e alojamentos, secos e perfumados. Deleitou-se no buraco piscina, alimentado por agua quente vinda diretamente das entranhas da terra, onde alguns ratos com suas companheiras e filhos gostavam de mergulhar limpando-se alegremente.

Gervásio explicou a sua amiga que a medicina dos ratos, ou seja, o que haviam chegado a experimentar e ensinar na terra, era a troca e a vida em comunidade.

-Tem que saber – explicou – os ratos não guardamos nada para nós mesmos. Tudo que encontramos trazemos a grande sala armazém para compartilhar com nossos irmãos e irmãs

-E quem controla tudo isso?

-Ninguém controla, já que ninguém abusa. A primeira Mãe Rata nos ensinou a pegar só o que necessitamos e não mais, deixando o resto para os demais. Pois, sabemos que ali, no buraco armazém, podemos sempre, mas sempre, encontrar o que precisamos, porque todos nós, todos os dias, vamos buscar alimentos e artigos úteis para a comunidade. Assim, não sentimos necessidade de ter mais para levar para a toca alojamento. Seria uma perda de tempo, um inútil esforço, Não te parece?

-É verdade – respondeu Cinzinha – tenho que dizer para minhas irmãs que levam muito tempo dizendo a quem pertence um vestido, um par de botas, em lugar de emprestar entre si.

Cinzinha não podia entender por que os humanos tinham tanto medo e desprezo a uns animais assim tão limpos, inteligentes e organizados. Então, perguntou a seu amigo.

– Houve um tempo – disse Gervásio – em que os humanos estavam conectados a grande Deusa Mãe, da qual a Primeira Mãe Rata era uma das Filhas Sagradas. Em este tempo se honravam todos os seres vivos. Os humanos reconheciam a beleza da natureza e de seus habitantes e respeitavam sua medicina.

-Sua medicina? Estavam doentes?

-Não, a medicina na linguagem da natureza significa características, sabedoria. Nossa medicina, por exemplo, é compartilhar, por em comum tudo o que nós encontramos.

-Então, o que passou? Porque agora tem medo de vocês?

-Porque os humanos perderam a conexão com a natureza e cortaram-se as raízes. Eles começaram a dirigir sua atenção só para o que está encima, as estrelas, os pássaros, desprezando o que vive na terra, como nós, as irmãs cobras, os irmãos insetos.

-Mas, que estupidez, vocês vivem em um mundo maravilhoso, são muito mais inteligentes que nós, que brigamos por luvas e sapatos.

-Bom, irmã humana, trata de ensinar a suas irmãs e amigas.

-Eu farei. Será um jogo bonito.

Gervásio ofereceu comida a Cinzinha, raízes lavadas na agua da terma quente, pedacinhos de queijo e frutas. Logo lhe presenteou umas pequenas pedras brilhantes transparentes e violetas, que se chamam quartzo e ametista.  Os ratos as encontravam nos tunéis, ao escavar e ampliar seu multi buraco cidade. As punham a um lado para recompensar a menina pela troca da comida que ela lhes oferecia. Finalmente, Gervásio trouxe de volta a Cinzinha para  a estrada, onde a mulher do Carvalho estava esperando para levá-la para fora, restaurando seu tamanho normal.

Cinzinha mal podia esperar para contar a sua mãe Verdade, todo o que havia visto e explicar a suas irmãs o jogo do compartilhar. Entrou em casa como um furacão, as chamou e enquanto comiam seu ceia de sobremesa de amoras e leite quente, lhes disse como era bonita a toca comunidade dos ratos, onde todo mundo podia entrar livremente e pegar o que necessitavam. As irmãs estavam encantadas: isto seria um bom jogo para ensinar para suas amigas. Decidiram que essa mesma noite  iriam  colocar na grande varanda todos seus vestidos, sapatos, gorras, meias, bolsas, casacos, luvas e a partir deste dia usariam tudo em comum e também trocariam com suas amigas.

Desde aquele dia, as roupas da familia mudaram-se para a varanda transformada em armário. As irmãs aprenderam a pôr em ordem, sacudir, limpar e voltar a colocar tudo no armário, todas as roupas, vestidos que usavam este dia, de modo que no dia seguinte já estava disponível para quem entre elas o desejasse usar. Com o tempo aprenderam a utilizar esse método com todas as coisas que tinham na casa e ensinaram a suas filhas e netas a fazer o mesmo. Então a formosa medicina do Rato – O compartilhar – foi compartilhado e ensinado por elas,  para um bom número de humanos e humanas que puderam desta maneira viver em Paz e abundância.

Texto escrito por Devana

Traduzido por Helena Pinheiro Bastos e Liliana Alicia Lavisse Teixeira

Ilustração Manuela Biave

descarregar Cinzinha pdf

OS CONTOS DO DESPERTAR PARA MENINAS E SUAS MÃES – CantaNeve

CantaNeve

Devana

 

Cantaneve: disegno originale di Manuela Biave

Havia uma vez uma bela menina, esguia e ágil, de bochechas cheinhas e o cabelo longo e escuro, suavemente ondulado. Chamava-se Petronila. Gostava de vestir roupas coloridas, sempre estava alegre e cantava muito. Amava ir à floresta e encontrar animais selvagens. Falava com as pedras, com as árvores e acima de tudo, cantava para a neve. Por isso sua querida mãe tinha colocado um apelido carinhoso: CantaNeve. De fato, quando nevava, a menina olhava pela janela de seu quarto e cantava, convencida de que seu canto, sua voz, poderia criar, dentro dos copos de neve, estranhas figuras mágicas em forma de cristal.

Quando a Rainha dessa terra ficou sabendo dessa habilidade, mandou chamá-la. A menina, ao ficar na presença dessa mulher tão importante, inteligente e sábia, ficou intimidada. No entanto, a Rainha soube passar-lhe confiança:

– Não se preocupe menina, eu não quero lhe fazer nenhum dano. Necessito de sua ajuda

– Como posso ajudar majestade?

– Alguns dias atrás, a Corça, minha protetora e companheira, entrou na floresta e nunca mais retornou. Temo que foi bloqueada pela neve. Talvez esteja morrendo. Por favor, pergunte para a neve. Quem sabe o canto dos copos de neve possa indicar o lugar onde se encontra minha Corça. Sem ela, não posso governar de forma sabia esta terra. Ela é meu contato com a Grande Deusa Mãe. É por meio dela que chega a voz da Senhora de todos os seres vivos.

– Está bem! – respondeu Cantaneve, – tentarei ajudar!

A menina voltou para sua casa, para avisar a sua mãe sobre a tarefa que tinha recebido da Rainha. Agasalhou-se de forma adequada, com botas, capa, luvas e chapéu, não esquecendo do seu flautim, com o qual acompanhava sempre o seu canto. A neve estava muito alta e, as vezes, Cantaneve não conseguia caminhar. Em alguns lugares a neve chegava-lhe à cintura e bloqueava suas pernas. Então, a menina cantava e a neve se soltava permitindo que continuasse o caminho. Em certo momento chegou diante da montanha. Não podia continuar sozinha. Sentia que em algum lugar, o animalzinho que buscava estava esperando, a neve tinha-lhe contado. Sentou-se à sombra de um pinheiro e ficou à espera.

Depois de algum tempo chegou um trenó puxado por três enormes cães com o pelo cor de prata, cintilantes, brilhando na penumbra. Os animais pararam o trenó diante do pinheiro e ficaram imóveis, como se estivessem convidando a menina a subir. Cantaneve obedeceu. Sentou-se no trenó e cobriu-se com a manta quentinha que se encontrava no assento. Quando estava preparada os cachorros partiram e a levaram galopando através da montanha, por túneis e cavernas que só eles conheciam. O trenó surgiu do outro lado da montanha, entre árvores e arbustos envoltos em neve que brilhavam como estrelas. Cantaneve ficou sem palavras. A beleza da floresta, o silêncio, o ar que atravessava seu cabelo, tiravam-lhe o fôlego. Nunca havia chegado tão longe de sua casa. No entanto, não estava com medo. Confiava nos cães e tinha certeza que encontraria a Corça, porque o desejo de seu coração era ajudar a Rainha.

Depois de um longo trecho, durante o qual já ia anoitecendo, chegaram a uma espécie de buraco onde a neve começava a se derreter. Cantaneve viu ao longe uma luz dourada entre as árvores. Parecia o reflexo de uma fogueira. Os cachorros seguiram essa luz e de repente o trenó precisou parar porque… não havia mais neve onde deslizar.

Cantaneve desceu do trenó, fez carinho nos cachorros e lhes falou baixinho: – esperem aqui por mim, meus irmãos!!!

Foi caminhando em direção do fogo, ao redor do qual, um estranho grupo de mulheres idosas estava a sua espera. Eram as sete feiticeiras do bosque que a esperavam sentadas em um círculo. No centro do círculo, encima do fogo, uma grande panela borbulhava e na fumaça que se levantava misturavam-se cheiros irresistíveis de ingredientes de uma maravilhosa sopa. A menina lembrou-se que não comia desde cedo, quando tomara o café-da-manhã com sua mãe. O barulho que seu estômago começou a fazer era inconfundível.

As mulheres a chamaram fazendo sinais para que se sentasse. Havia oito tamboretes ao redor do fogo. Um deles, localizado ao leste, estava vazio e parecia estar a sua espera. As avós, que pareciam fadas anciãs, vestiam longas túnicas, abrigos suaves e capuzes, nas sete cores do arco íris. Cada uma vestia uma das cores. Ofereceram-lhe um prato de sopa quente e saborosa, uma colher de madeira e uma fumegante infusão de bagas. Cantaneve comeu com apetite. A sopa era grossa e saborosa, um pouco picante. Tinha sabor de floresta, cascas de árvore, folhas e bagas. Esquento-a por fora e por dentro. Sentia-se feliz, leve, segura e rodeada de amor.

Depois de limpar a xícara, começou a olhar no seu entorno esperando que as avós falassem, já que até então ninguém tinha pronunciado nem uma só palavra. As sete feiticeiras se apresentaram, uma a uma.

Disseram ser os espíritos guardiães dos sete mundos – as avós do Norte, Leste, Sul e Oeste, a avó do Céu, da Terra e a guardiã da Floresta. As sete mulheres reuniam-se neste lugar uma vez ao ano, na noite em que espíritos e humanos podiam se ver. Nessa noite, contavam o que tinham feito nas treze luas e como haviam governado suas terras. Cada uma contou a Cantaneve sua história e descreveu sua casa. A seguir, a mulher guardiã da floresta solicitou à menina que contasse sua história. Assim, ela revelou o objetivo desse encontro: buscava a Corça da Rainha e precisava achá-la e levá-la de volta. Também lhes falou sobre a sua capacidade para criar cristais com os copos de neve com seu canto. Fascinadas, as sete mulheres pediram que cantasse para elas e lhe entregaram um recipiente com neve que tinha sido reservado longe do fogo para que não derretesse. Cantaneve, feliz de compartilhar seu dom, começou a cantar, acompanhada do flautim.  Enquanto sua voz vibrava através das árvores, o recipiente com a neve soltava lampejos. Ao se aproximar, podiam ser enxergados pequenos mundos cristalinos hexagonais, formando se nos copos de neve, com microscópicas montanhas, rios e lagos.

As sete mulheres estavam extasiadas pela maravilhosa magia e perguntaram à menina se poderiam manter a água no recipiente e leva-lo para suas terras, jogando nos rios para que estes ficassem cheios de cristais luminosos. Cantaneve entusiasmou-se com esse pedido e ensinou as avós como fazer, como recriar essa água gelada quando estava perto de terminar a magia. Deveriam diluir essa água com uma água tirada de uma fonte pura. Dessa forma a nova água estaria cheia de micromundos cristalinos. As avós ficaram em silêncio escutando o som das árvores e da noite. Logo uma delas fez um gesto para que a menina se aproximasse e abriu a capa que a cobria. No seu regaço, protegida e quentinha, estava  Corça.

– Oh! – bateu palmas Cantaneve – você está aqui…que alegria!!! Agora voltaremos juntas para tua…tua…  E se deteve. Não sabia como definir a Rainha. Não disse “tua dona” porque instintivamente sentia que essa palavra não era apropriada para uma criatura tão nobre e bela, que claro, não poderia ter donos.

– Corça – explicou a avó do Norte – é o símbolo da Grande Deusa Mãe.

– Seus chifres e o focinho, continuou a avó do Sul – representam o lugar onde são gerados todos os seres.

– Sua pele dourada – disse a avó do Leste – é o sol que renasce a cada dia e alimenta a vida

– Seus grandes olhos – acrescentou a avó do Oeste – são a escuridão e os sonhos nos quais os seres se regeneram.

-Sem ela – falou a avó da Terra – a Rainha não pode governar de forma sábia.

– Sem ela, a Rainha não pode falar com os espíritos guardiães – disse a avó do Céu.

– Nem viver em paz com seu povo, como representante da Deusa Mãe – concluiu a avó guardiã da Floresta.

Então, Cantaneve, percebeu o tamanho da confiança que a Rainha havia depositado nela, ao encomendar-lhe tarefa de tanta responsabilidade. Ficou feliz e orgulhosa de cumprir essa missão, ainda que consciente com o fato de que foi guiada desde o começo. Pensando bem, ela achou finalmente não ter feito muito.

No entanto, a menina não entendia uma coisa: – Por que o belo animalzinho escapou do palácio? Acaso não gosta viver nesse belo palácio ao lado da Rainha?

– Não escapou – disse uma das mulheres – veio aqui para te trazer até nós. Para que nos ensinaras o milagre da água. Agora sabemos que o canto na água pode ocasionar visões, criar medicamentos e feitiços e podemos levar esse milagre a nossas terras.

–  Obrigada irmãzinha por este maravilhoso presente – disse outra mulher – Agora, vai encontrar a Rainha e leva nossas saudações e lembranças, porque ela é também nossa irmã e companheira.

Cantaneve agradeceu às boas avós e levantou-se de seu tamborete. Nesse momento saiu o sol às suas costas e parecia uma coroa na sua cabeça. Despediu-se e foi em direção ao trenó, ao lado de Corça, que de forma obediente a acompanhava. Os cachorros a aguardavam e a levaram de volta ao palácio, junto com a preciosa encomenda. A Rainha, emocionada e grata lhe deu um presente: uma bela maçã vermelha. Cantaneve não entendeu, mas se adiantando às perguntas, a Rainha explicou: – Esta é a maçã da ALIANÇA, irmãzinha. É uma maçã mágica que serve para criar amizade e solidariedade entre todas as mulheres. Entrego a você para que a mantenhas em tuas mãos e perto de teu coração. Quando chegue o momento, a entregarás a outra mulher, para quem contarás esta história. E ela, pela sua vez a passará para outra e assim sucessivamente. Desta maneira, todas juntas, com esta maçã, formaremos um círculo de mulheres, que em toda a terra irão dançar juntas e viver em paz com seus filhos e filhas, pais e esposos.

Cantaneve estava contente, correu para sua casa para contar sua incrível aventura para sua mãe. Agora o sol brilhava e a Rainha, aliviada, observou com benevolência, desde a grande janela do palácio, à menina que corria em direção ao leste, ao encontro de sua mãe, com a maçã na mão. E enquanto acarinhava o animalzinho,  a Rainha percebeu que Corça estava grávida.

Texto escrito por Devana

Traduzido por Helena Pinheiro Bastos e Liliana Alicia Lavisse Teixeira

Ilustração Manuela Biave

descarregar Cantaneve pdf

OS CONTOS DO DESPERTAR PARA MENINAS E SUAS MÃES – Flordesal

Flordesal

Devana

Fiordipepe: disegno originale di Manuela Biave

 

A pequena Flordeliz, nasceu numa família simples e humilde. O pai trabalhava nos campos e, quando era possível, fazia cerâmica e talhava em madeira; sua mãe, que amava sua bela menina, tecia e cozinhava. A pequena Flordeliz era animada e curiosa pelo que a mãe a chamava Flordesal. Suas perguntas sobre a vida e os filhos da terra, o céu e a água, eram intermináveis e cada vez mais profundas. A mãe não era capaz de responder a suas perguntas e aos quatro anos, a menina já se aventurava durante horas pela floresta, fazendo perguntas para as raízes, folhas, pássaros e lebres.

Por que depois da luz vem a escuridão? Quais são as luzes que se veem no céu noturno? De onde vem os cachorros? E a fruta? E os brotos? Como vivem os insetos subterrâneos? Como fazem as aves para encontrarem seus ninhos? Onde está a chuva? E assim sucessivamente, dia após dia. A sede de conhecimento da menina era insaciável. Quando fez sete anos, sua mãe percebeu que sua pequena precisava de uma professora. Levou-a no palácio da boa Rainha para pedir-lhe ajuda. A Rainha observou Flordesal com interesse. Ofereceu-lhe alguns doces e fez muitas perguntas para avaliar seu potencial.

– Sim senhora – disse a Rainha – sua filha realmente tem uma estranha qualidade e precisa ser desenvolvida. Mas terá que provar que merece a ajuda. A educação dura muitos ciclos solares e a vida das jovens que se dedicam a estudar é solitária e dedicada. Sua pequena será capaz de suportar essa vida?

– Sim majestade – disse Flordesal antecipando-se a sua mãe – Quero saber os segredos da vida e sobre tudo o que acontece quando os corpos caem ao chão e não se levantam mais… Em que outro mundo despertarão?

– Está bem Flordesal – falou a Rainha, fechando um olho em direção à mãe em aprovação – se acreditas que podes resistir, começaremos logo. Partirás amanhã ao amanhecer com a Mestra da Vida, que te levará às profundezas da floresta. Irás morar numa torre da qual não poderás sair enquanto perdure tua aprendizagem. A Mestra irá todas as manhãs e permanecerá contigo durante o dia, até o sol se pôr. Te ensinará os segredos das estrelas, das plantas e dos animais. Não poderás cortar o cabelo. Quando consigas fazer, com teu cabelo,  uma grande espiral que cubra todo o chão da torre, então estarás preparada para a grande eleição.

– De que se trata essa eleição? – perguntou a menina, sem sombra de medo, pelo que sua mãe ficou preocupada, pelo seu atrevimento.

– Saberás em seu devido tempo – disse a Rainha, despedindo a menina com um carinho na face.

Essa noite, a menina não conseguiu dormir por causa da emoção. Amanheceu e chegou a Mestra da vida. Era uma mulher anciã, ainda muito forte, de rosto sorridente e olhos pacientes. Flordesal havia se preparado para esse momento e não acreditava que seria tão difícil se separar da sua mãe.  Saíram e caminharam durante muitas horas. Quando o sol estava alto, chegaram no  meio da floresta, onde nenhum ser humano poderia chegar. A torre era de pedra, construída com enormes blocos e assim apareceram as primeiras perguntas de Flordesal. O mais estranho é que não havia porta. Só uma janela no alto. Observou que a Mestra pegava uma escada muito comprida que estava oculta no meio das árvores.

– Desta forma virei todos os dias. Não saias da torre até o tempo em que teu cabelo esteja suficientemente comprido. Trarei alimento, água e tudo o que necessites.

O interior da torre era aconchegante. Havia livros nas paredes, nas estantes se encontravam estranhos instrumentos para medir, cortar, esquentar, misturar. Mas, o mais fascinante era o teto pontiagudo. Era como um telescópio gigante para ver as estrelas. Flordesal percebeu que o dia tinha chegado ao fim. O céu escureceu e, olhando para cima,  podiam se ver claramente os desenhos que formavam as estrelas. A Mestra deixou a torre quando a menina dormiu esgotada, não sem antes fazer uma última pergunta inacabada, porque fora incapaz de terminar a frase, vencida pelo cansaço. A mulher sábia colocou-a na cama, desceu a escada e desapareceu na floresta.

Assim, entre perguntas e respostas, os dias passaram voando na torre e o cabelo de Flordesal foi crescendo. Ela olhava desde o alto da torre e por todas partes observava a vida no bosque graças as diferentes ferramentas que havia para ampliar a visão. Também aprendia nos livros e nas práticas. A Mestra trazia, a cada dia, novas plantas, pedras e animais para aprofundar seu conhecimento. Pela tarde, observava e estudava o céu até a hora de dormir. Um dia, depois de muitos ciclos solares, a menina decidiu medir seu cabelo e comprovou que estava muito comprido, já que nunca o tinha cortado. Caminhou em espiral, acomodando o cabelo no chão, mas, quando chegou ao centro, percebeu um detalhe que antes não tinha visto: o centro era uma armadilha! Que surpresa! Permaneceu imóvel durante alguns minutos enquanto seu corpo tremia.  Será que podia sair da torre? Nunca tinha notado essa abertura. E se fosse uma prova? E, se ao abrir a portinhola estragasse tudo?

Decidiu confiar no coração da Deusa. Valendo-se de uma barra para poder abrir a porta,  a armadilha abriu-se deixando ver uma escada em espiral que conduzia para baixo. Flordesal respirou várias vezes enquanto sentia o tremor de suas pernas. Logo animou-se, pois o desejo de conhecimento era mais forte que o medo. Pegou uma lâmpada de óleo e começou a descer arrastando seu cabelo como se fosse um manto. Enquanto descia teve a impressão de estar entrando em outro mundo.  As paredes brilhavam com a luz da lanterna, como joias escondidas na escuridão. Pareciam ser as asas e  armaduras de insetos que vivem no subsolo. Um mundo misterioso revelou-se durante a descida. Quanto mais descia, mais claro lhe chegava o som de água. Quando chegou ao final da escada, viu a sua frente um poço enorme como a própria torre. Inclinou-se e olhou. Viu sua imagem com a lanterna, seu próprio reflexo e sentiu-se chamada pela superfície calma e escura da água. Entregou-se ao chamado e deixou-se cair.

Enquanto caia, uma força a absorvia, ou talvez empurrasse. Viu então inteiros mundos contidos em pequenos grãos de areia. Tinha certeza que cada grão era um planeta que havia sido o lar de muitas formas de vida. Uma doce voz vinda de dentro de sua cabeça, falou baixinho:

– Esta é a entrada à Criação Sagrada, tudo que entra sai, tudo o que sai entra.

Flordesal compreendeu então que toda forma de vida são espelhos um do outro, assim como as estrelas são espelhos dos grãos de terra.

Terminando a queda, chegou a um bonito jardim cheio de flores de todas as cores e tamanhos. No meio das flores, sorridente, estava esperando a Mestra da Vida, que segurava um belíssimo vestido das cores do arco íris.

– Felicidades Flordelis – disse em tom formal – passaste a prova. Venceste os medos em prol do conhecimento. Conseguiste perceber que para cada torre há um poço, para cada estrela um grão de areia, para cada fora há um dentro, para cada acima há um embaixo. Tudo é um espelho no mundo dos vivos. Experimentaste tudo isso e agora, do outro lado do espelho d’água, chegaste ao mundo onde acordam aqueles corpos que caem no chão e não se levantam mais. Tua última curiosidade foi satisfeita e tua preparação está completa. A partir de agora poderás enriquecer teu saber com tua curiosidade e experiência pessoal. Este é o vestido que se oferece às meninas que completam a formação, ocasião em que enfrentam a grande eleição!

– E que seria? – Flordesal fez a mesma pergunta que teria feito à Rainha e que tanto preocupara sua mãe naquela ocasião.

A Mestra da Vida sorriu docemente e a chamou para um abraço, dizendo:-  A eleição, menina afortunada, consiste em escolher entre retornar ao mundo e viver uma vida normal entre outras pessoas, ou ficar conosco, as Mestras da Vida, para instruir, chegado o momento, a outras meninas curiosas e bem dotadas, que necessitarão de uma guia.

Flordesal não necessitava pensar na resposta nem por um segundo. Tanto havia recebido na torre, tão cheios e ricos foram seus dias nesse lugar, que com todo prazer dedicaria sua vida a devolver essa quantidade de sorte a outra menina digna de ser educada.

A Mestra da vida não precisou de palavras para saber qual era a escolha da menina. Mandou que levantasse os braços e, assim, num instante, o vestido envolveu seu corpo como uma segunda pele, iluminando-a com uma luz profunda e calma. No momento seguinte encontrou-se de novo na torre. Havia uma porta aberta para a floresta. Saiu e foi ao encontro de sua mãe para despedir-se antes de se juntar às outras Mestras de Vida e voltar à floresta à qual agora pertencia.

Texto escrito por Devana

Traduzido por Helena Pinheiro Bastos e Liliana Alicia Lavisse Teixeira

Ilustração Manuela Biave

descarregar Flordesal pdf

OS CONTOS DO DESPERTAR PARA MENINAS E SUAS MÃES – Joãozinho e Marieta

Joãozinho e Marieta e a casa de pão

Devana

 

Anselmo e Griselda: disegno originale di Manuela Biave

Um lenhador e sua esposa tiveram dos filhos, um menino e uma menina, Joãozinho e  Marieta. Eram gêmeos, sempre estavam juntos e compartilhando tudo, o pão e seus sonhos. Chegou à fome e o pão era escasso. Uma noite, o pai, acreditando que os filhos estavam na cama, disse a sua mãe

-Devemos deixar as crianças na floresta e abandoná-las. Alguma pessoa de bom coração as achará, ou elas mesmas encontrarão o comer: A fome as guiará…

-Mas, meu marido como vamos deixar nossos filhos na floresta. Prefiro dar lhes o ultimo alimento que temos. Pois, sou uma mãe.

-Boba, assim morreremos todos. Então me obedeça, gostando ou não. Porque você é minha mulher e tem que fazer o que eu te digo.

A pobre mulher não conseguiu fazê-lo mudar de ideia, com lagrimas e orações. Na manhã seguinte, o homem acordou os gêmeos e os levou com ele. Deixou os em uma clareira com o pretexto de buscar madeira muito longe. Afastou-se para não voltar nunca mais. Mas, as crianças que na noite anterior tinham escutado o plano de seu pai, não se deixaram enganar e não ficaram esperando. No momento em que o pai partiu, começaram a caminhar em direção ao sol.  Marieta, segurava o pequeno Joãozinho pela mão e o guiou como se ela conhecesse o caminho. Disse:

– Não se preocupe irmãozinho sinto no coração que em algum lugar perto de aqui existe uma pequena casa que irá nos acolher e nos alimentar.

E Joãozinho que confiava em sua irmã a seguiu docilmente. Caminharam até o sol se por no horizonte, seus pobres pés estavam tão doloridos que se negavam a continuar. Finalmente, viram uma fumaça que aparecia por cima da copa das arvores. Encorajados correram a toda a velocidade e chegaram a uma pequena casa incrível toda feita de pão. Frente a entrada havia uma bonita fonte da qual brotava leite, rodeada de cachos de flores que davam passas, figos secos, castanhas, vagem de chocolate. Os dois meninos impulsionados pela fome, se lançaram sobre a pequena casa e começaram a devorar a troços as delicias. Porque ao seu redor não se via ninguém que pudesse reclamar.

Quando se saciaram, pegaram no sono, exaustos e confiantes. De fato, as crianças, quando tem o estomago cheio sempre ficam confiantes.  Foi enquanto estavam profundamente dormindo, que pela porta entreaberta surgiu um olho pesquisador. Quando era óbvio que os dois estavam dormindo a perna solta, saiu da casa um homem com um casaco comprido cheio de remendos, sapatos ponte agudos e um gorro de dormir que cobria uma cabeça totalmente careca.

O pequeno homem carregou os gêmeos em um carrinho de mão e os levou para dentro da casa onde os colocou em duas camas com lençóis de linho em um quarto encantador, cheio de brinquedos, no primeiro andar. Quando as crianças acordaram nesse belo lugar, suas almas se regozijaram.  Puseram as novas roupas, que estavam cuidadosamente dobradas encima de um baú aos pés das duas camas e saíram do quarto. Uma escada conduzia para a parte inferior da casa. Joãozinho e  Marieta desceram e encontraram uma mesa com todo tipo de guloseimas, um fogo crepitante, cachorros para brincar e um estranho homem que não parava de se mexer.

– Bom dia minhas lindas crianças – disse com uma voz persuasiva – sou Pere Angel, moro nesta casa e acolho desamparados como vocês. Podem permanecer todo o tempo que desejarem comer, beber, brincar e dormir quando quiserem.

-Mas, que devemos fazer em troca? – perguntou Marieta

-Nada, minha linda menina – disse surpreso Pere Angel -aqui tudo é de graça e disponível. A única coisa que não podem fazer é abrir a porta do porão; este lugar não é para crianças e se vocês desobedecerem serão castigados. Colocaria vocês para fora.

Joãozinho falou dando um sorriso:

– Porque iriamos ao porão? Um lugar frio, úmido e cheio de ratos podendo comer, brincar e dormir aqui como se estivéssemos no paraíso.

– De fato porque deveriam? – disse Pere Angel – Fica então decidido, vocês ficam aqui comigo, e quando não houver suficiente diversão, podem perguntar, que ficarei contente em satisfazer seus desejos.

Durante umas semanas tudo foi muito bem. As crianças comiam, faziam barulho, brincavam e riam com os cachorros até a barriga doer. Dormiam e sonhavam em suas boas camas perfumadas. E assim, passavam os dias. Mas, depois de um tempo,  Marieta começou a sentir que esta vida era muito sem graça.

-Que sentido pode ter viver assim todos os dias? Tem que haver algo mais… Um propósito mais elevado? Um sentido mais profundo da existência?

Enquanto se fazia estas perguntas, veio em sua mente a imagem do porão. Lembrou o olhar de Pere ao falar que não podiam entrar nelo. Decidiu que qualquer coisa que estivesse lá valeria a pena descobrir. O desejo de conhecimento era mais forte que o medo.

Assim, enquanto Joãozinho se divertia com os cachorros e Pere preparava um pastel mil folhas, a menina rápida e silenciosa como uma gata, empurrou a porta e começou descer as escadas. A porta do porão era verde e cheirava a menta e alecrim. Não parecia que tivesse ratos ou mofo.  Marieta empurrou a porta que se abriu sem esforço. Estranho…. ela esperava ferrolhos e cachorros latindo para proteger um lugar tão proibido. Com o coração palpitante entrou e quando seus olhos se acostumaram, descobriu que o porão continha livros, manuscritos, mapas e instrumentos estranhos que nunca tinha visto.

– Por enquanto já vi o suficiente – pensou – voltarei pela noite com uma vela.

Esta noite, pegou uma vela e refez o caminho descendo novamente as escadas até o porão. Uma vez mais encontrou a porta aberta. Deixando a vela encima de uma mesa começou folear livros e mapas. Frente a ela abriam-se novos mundos. O conhecimento a nutria mais e melhor que os jogos com os cachorros. Nos livros aprendeu como usar as ferramentas que via nas estantes e tantas outras coisas, sobre os seres viventes, animais e vegetais, sobre as estrelas, sobre outros mundos, sobre a música e a forma de cantar algumas rimas para fazer acontecer coisas mágicas.

Durante o dia,  Marieta se comportava da forma mais normal que conseguia, mas, Pere era consciente que para a menina já não interessavam jogos nem comida. Ele decidiu investigar e esperou acordado pela noite. Quando a menina se levantou para aprender algo novo no porão, seguiu a e descobriu seu segredo.

– Pois, bem – falou Pere, com o rosto desencachado pela raiva e incredulidade. – Nunca pensei que alguém fosse tão bobo para correr o risco de ser expulso de minha casa por desobedecer às ordens. Mas tive que imaginar que uma fêmea estúpida faria isso. Por que, você não continuou como seu irmão comendo sem fazer perguntas?

– Porque, eu estava cansada. Francamente meu bom pai, por que proibir em vir a este lugar maravilhoso com bons livros? Porque não me deixa vir de dia ao invés de ficar brincando com os cachorros, assim, posso dormir pela noite. Por que não posso vir? Porque é ruim?

– Não sei porque. Mas, está escrito e assim tem que ser. Porque quem escreveu esta regra decide o destino de todo mundo. E, portanto, terá suas razões.

Marieta insiste:

– Mas, não acredita que se o mundo tivesse habitado por pessoas que pudessem fazer o que seu coração desejasse, seria um mundo melhor? Não seria um lugar bom?

– O que eu acredito não importa. Você desobedeceu a lei e será castigada. Amanhã tem que partir!!

Marieta ficou aí no meio dos livros perguntando o que iria fazer e  aonde iria. Logo, decidiu que por nada deste mundo renunciaria estes livros e mapas, pegou o carrinho de mão que eles tinham sido transportados para dentro da casa, pelo pai Pere. E começou a carregar todos os livros e pergaminhos que conseguiu carregar. Logo foi vestir uma roupa adequada, deixou um bilhete para seu irmão, pegou o carrinho de mão que transbordava de livros e saiu pela noite a fora.

Caminhou por uma hora mais ou menos, rapidamente para abafar o desespero e, por fim, caiu no pé de uma bela árvore e começou a chorar. Chorou até não poder mais, se aconchegou nas raízes da grande avó árvore e dormiu. De madrugada acordou com um cheiro de comida, olhou para um lado e viu um pequeno fogo, viu uns bolinhos para cozinhar sobre pedras quentes e um jarro com leite.

A menina comeu e bebeu tranquila, se sentou junto ao fogo esperando que aparecesse a pessoa compassiva que lhe havia ajudado. Logo depois, escutou uma canção que vinha das arvores, parecia ser um canto de mulher. Então viu uma maravilhosa anciã vestida de verde vir em sua direção. Carregava uma bolsa cheia de raízes e ervas, uma vara de madeira e uma pequena cabra caminhava a seu lado.

– Bom dia, menina – saudou com voz melodiosa – espero que tenha desfrutado de meus bolinhos e do leite da minha Beniamina.

– Bom dia, vovozinha – respondeu cordialmente  Marieta – Comi a vontade e te agradeço.

Marieta começou de novo a chorar pensando no seu irmão pequeno que não estava ao seu lado. A mulher da floresta, que sabia de tudo, não ficou fazendo perguntas bobas, como às vezes fazem os adultos as crianças.

– Você foi muito valente – disse com voz solene – e merece ser recompensada. Você rompeu uma lei absurda e desnecessária, que tem um único proposito de provar a inteligência e a coragem de quem vem na casa do pão. Demonstras-te que merece os conhecimentos dos livros e a experiência. Se desejas, se teu coração fala, poderá ser minha aprendiza e viverá comigo entre as árvores. Terá alimento para o corpo, também para o espirito e ainda poderá pedir um desejo.

– Então gostaria que viesse meu irmão pequeno – respondeu sem duvidar um minuto.

Assim,  Marieta e a anciã da floresta, foram à casa do pão para buscar a Joãozinho, que feliz correu ao encontro de sua irmã. Desde então, vivem os três com a cabra e todos os animais na casa das árvores. Eles comem, brincam e aprendem coisas novas a cada dia, a respeito das coisas milagrosas da vida, dos lábios da boa vovó que nunca se cansa de responder as suas perguntas.

Texto escrito por Devana

Traduzido por Helena Pinheiro Bastos e Liliana Alicia Lavisse Teixeira

Ilustração Manuela Biave

descarregar Joaozinho e Marieta pdf

I RACCONTI DEL RISVEGLIO PER LE BAMBINE E LE LORO MAMME: ANSELMO GRISELDA E LA CASETTA DI PANE

Anselmo e Griselda: disegno originale di Manuela Biave

Un taglialegna e sua moglie avevano due bambini, maschio e femmina. Anselmo e Griselda. Erano gemelli, stavano sempre insieme e condividevano tutto, pane e sogni. Venne la carestia e il pane scarseggiava. Una sera il padre, credendo che i bambini fossero a letto, disse alla mamma:

  • Dobbiamo portarli nel bosco e abbandonarli. Qualche persona di buon cuore li troverà o loro stessi troveranno da mangiare: la fame li guiderà
  • Ma marito mio come possiamo abbandonare i nostri figli nel bosco. Preferirei dare a loro il mio ultimo boccone piuttosto. Come è vero che sono una Madre
  • Sciocca, così moriremo tutti comunque. E poi tu mi obbedirai, che tu lo voglia o no. Perché sei mia moglie e devi fare come ti dico

La povera donna non riuscì a far cambiare idea al marito con pianti e suppliche e l’indomani mattina l’uomo svegliò i gemelli e li condusse con sé nel bosco. Li lasciò in una radura con la scusa di andare a far legna più lontano e si allontanò per non tornare mai più. Ma i due bambini, che la sera prima avevano sentito il piano del padre, non si illusero e non lo aspettarono. Come il padre si fu allontanato cominciarono a camminare in direzione del sole. Griselda teneva il piccolo Anselmo per mano e lo guidava come se conoscesse la strada.

  • Non preoccuparti fratellino, il cuore mi dice che qui da qualche parte c’è una casetta che ci ospiterà e ci sfamerà

E Anselmo, che si fidava della sorellina, la seguiva docilmente. Camminarono finché il sole fu talmente basso all’orizzonte da scomparire quasi, e i loro poveri piedi talmente indolenziti da rifiutarsi di proseguire. E finalmente videro un filo di fumo salire in lontananza dalle cime degli alberi. Rinfrancati* si misero a correre e presto giunsero in vista di una incredibile casetta tutta fatta di pane. Davanti all’entrata una bella fontanella zampillava latte e le aiuole che la circondavano erano fiorite di uva passa, fichi secchi, castagne e chicchi di cioccolata. I due bambini spinti dalla fame si avventarono letteralmente sulla casetta dandosi da fare per divorarne dei bei pezzi, tanto più che in giro non si vedeva nessuno che potesse sgridarli.

Quando furono sazi, si addormentarono sul prato, sfiniti ma fiduciosi. Infatti i bambini, quando hanno la pancia piena sono sempre fiduciosi. Fu mentre essi erano profondamente addormentati che si socchiuse la porta e un occhio sbirciò all’esterno. Quando fu ovvio che i due dormivano della grossa, dalla casetta uscì un omino con un lungo pastrano rattoppato, ciabatte a punta sbiadite e un berretto da notte che copriva una testa totalmente pelata. L’omino caricò i gemelli su una carriola e li portò all’interno della casetta dove li sistemò in due lettini con lenzuola fresche di bucato che si trovavano in una deliziosa cameretta, piena di giocattoli, al primo piano.

Quando i bimbi si svegliarono e si trovarono in quel bellissimo posto le loro anime esultarono. Indossarono i colorati abitini nuovi, che si trovavano ben piegati sulle cassapanche ai piedi dei due lettini, e uscirono dalla camera. Una scala portava da basso. Anselmo e Griselda scesero e trovarono la tavola apparecchiata con ogni genere di leccornia, un bel fuoco scoppiettante, cuccioli con cui giocare e uno strano omino che si dava da fare tutto intorno.

  • Buongiorno miei bei bambini – disse con voce suadente – sono Père Angelo. Vivo in questa casetta e accolgo i viandanti sfortunati come voi. Potete stare qua per tutto il tempo che desiderate, mangiare bere giocare e dormire come più vi piace
  • Ma – obbiettò Griselda – cosa dovremmo fare in cambio?
  • Proprio nulla mia bella bambina – rispose stupito Père Angelo – qui è tutto libero e disponibile. L’unica cosa che non dovrete mai fare è aprire la porta della cantina. Quel locale non è per i bambini e se entrerete sarete puniti. Dovrò mandarvi via
  • Beh – rise Anselmo – e perché mai dovremmo entrare nella cantina, un posto freddo, umido e pieno di topi, se possiamo mangiare bere giocare e dormire quassù come se fossimo in paradiso?
  • Infatti – rispose Père Angelo con un sorriso ambiguo che non sfuggì a Griselda – perché dovreste? Dunque è deciso. Starete qua con me e se non vi bastano i sollazzi che vedete, chiedetemene altri e sarò felice di esaudire i vostri desideri

Per qualche settimana tutto filò liscio. I bimbi mangiavano a crepapelle, giocavano e ridevano coi cuccioli fino ad avere mal di pancia e dormivano e sognavano nei loro bei lettini profumati. E così passavano le giornate. Ma dopo un po’ Griselda cominciò a non poterne più. Quella vita le veniva a noia

  • Che senso può mai avere vivere così ogni giorno? Ci deve essere qualcos’altro… uno scopo più nobile, un senso più profondo nell’esistenza

E mentre si faceva quelle domande le venne in mente la cantina e ricordò lo sguardo di Père Angelo mentre diceva loro che non avrebbero mai dovuto entrarci. Decise che qualunque cosa vi fosse nascosta valeva la pena di cercarla. Il desiderio di conoscenza era più forte della paura. Così mentre Anselmo si divertiva coi cuccioli e Père Angelo preparava un dolce a 12 strati, la bambina, svelta e silenziosa come una gatta, infilò la porta e scese le scale.

La porta della cantina era verde e profumava di menta e rosmarino. Davvero non sembrava che contenesse topi e muffa. Griselda spinse leggermente e la porta si aprì senza sforzo. Strano… si era aspettata catenacci e cani latranti per proteggere un luogo così proibito. Col cuore in gola entrò e quando gli occhi si furono abituati all’oscurità si accorse che la cantina conteneva libri, pergamene, mappe e strani strumenti che non aveva mai visto.

  • Per ora ho visto abbastanza. – disse a se stessa – Tornerò stanotte con una candela

E così fece. A notte fonda prese la candela che teneva sul comodino e rifece le due rampe di scale che dalla cameretta portavano alla cantina. Di nuovo trovò la porta aperta e questa volta appoggiò la candela e cominciò a sfogliare libri e mappe. Di fronte a lei si aprivano mondi nuovi: il sapere la nutriva più e meglio del cibo e del gioco coi cuccioli. Dai libri imparò come usare gli strumenti che vedeva sugli scaffali e tante altre cose sugli esseri viventi animali e vegetali, sulle stelle, sugli altri mondi, sulla musica e su come salmodiare certe filastrocche per fare accadere cose magiche.

Durante il giorno Griselda si comportava il più normalmente possibile, sebbene Père Angelo si accorgesse che la bimba non era più molto interessata ai giochi e al cibo. Ma dopo qualche notte in bianco passata nella cantina le occhiaie la tradirono e Père decise di tenerla d’occhio. Infatti si appostò fuori dalla cameretta e quando a notte fonda la bimba scese per andare a imparare qualcosa di nuovo nella sua cantina, la seguì e la colse in flagrante.

  • Bene allora – sibilò con la faccia contratta dalla rabbia e dall’incredulità – non avrei mai pensato che qualcuno fosse tanto sciocco da rischiare di essere cacciato dalla mia casetta disobbedendo ai miei ordini. Ma dovevo immaginare che a disobbedire sarebbe stata una stupida marmocchia. Perché non hai fatto come tuo fratello e non hai continuato a rimpinzarti senza farti troppe domande?
  • Perché mi ero stancata. – rispose candidamente Griselda – Ma davvero buon Padre perché proibisci di venire a guardare questi bellissimi libri. Non mi hanno fatto del male… vedi? Anzi. E’ solo che ho dovuto venire qua di nascosto per tante notti e così ora ho sonno. Ma se tu mi permettessi di venire qua sotto di giorno a leggere anziché baloccarmi coi cuccioli, io potrei dormire di notte. Perché proibisci di venire qua… cosa c’è di male?
  • Di male? Non lo so cosa c’è. Ma è scritto e quindi deve essere così. Perché chi ha scritto questa regola decide le sorti del mondo intero e quindi avrà le sue buone ragioni
  • Ma – insistette Griselda – non credi anche tu che se il mondo fosse tutto abitato da persone che possono fare ciò che il loro cuore desidera e le fa stare bene, sarebbe un bel posto?
  • Ciò che io credo non conta nulla – si stizzì Père Angelo – hai disubbidito alla legge e devi essere punita. Domani te ne andrai.

Si girò e la piantò lì in mezzo ai libri a chiedersi cosa avrebbe fatto e dove sarebbe andata. Griselda decise che per nulla al mondo avrebbe rinunciato a quei bei libri e a quelle mappe dei mondi. Trovò la carriola nella quale il Père li aveva trasportati la prima volta e la caricò con tutti i volumi e le pergamene che riuscì a stiparvi dentro. Poi salì a vestirsi, lasciò un biglietto al fratellino, prese la carriola stracolma e uscì nella notte. Camminò per un’ora circa velocemente per non sentire la disperazione che le saliva alla gola e poi finalmente si accasciò sotto una quercia e cominciò a singhiozzare.

Quando ebbe pianto fino a non poterne più si acciambellò tra le radici della grande nonna pianta e si addormentò. All’alba fu svegliata da un profumino di cibo. Accanto a lei era stato acceso un piccolo fuoco e vi erano focaccine a cuocere sulla pietra calda e una ciotola di latte. La bimba mangiò e bevve grata e poi si sedette accanto al fuoco aspettando che il suo miracoloso salvatore comparisse. E di lì a poco sentì un canto provenire dagli alberi. Prima confuso poi, via via, sempre più chiaro: un canto di donna. E vide una meravigliosa anziana signora vestita di verde venire verso di lei con un alto bastone di frassino, una sacca a tracolla piena di radici e di erbe e una bella capretta al fianco.

  • Buongiorno bambina – la salutò con voce melodiosa – spero tu abbia apprezzato le mie focaccine e il latte della mia Beniamina
  • Buongiorno nonnina – rispose educatamente Griselda – ho mangiato volentieri e ti ringrazio.

E ricominciò a piangere a dirotto pensando al suo fratellino che per la prima volta non era accanto a lei. La donna, che era una Donna del bosco, sapeva tutto e quindi non le fece stupide domande come a volte gli adulti fanno coi bambini.

  • Sei stata coraggiosa piccola Griselda – disse con voce solenne – e meriti di essere premiata. Hai infranto una legge assurda e inutile che ha l’unico scopo di mettere alla prova l’intelligenza e il coraggio di chi giunge alla casetta di pane. Hai dimostrato di meritare la conoscenza dei libri e dell’esperienza e da oggi potrai, se il tuo cuore lo desidera, essere la mia apprendista e vivere con me nella mia casa tra le querce. Avrai cibo per il corpo ma anche per lo spirito e in più puoi ancora esprimere un desiderio
  • Allora voglio il mio fratellino – rispose senza un attimo di esitazione la piccola – se anche lui lo desidera.

E così Griselda e la Donna del bosco tornarono alla casetta di pane a prendere Anselmo che, felice, corse incontro alla sorellina e da allora vivono tutti e tre, con la capra e tutti gli altri animali, nella casetta tra le querce dove mangiano, giocano e apprendono ogni giorno cose nuove sulle miracolose leggi della Vita, dalle labbra della buona Nonna che non è mai stanca di rispondere alle loro domande.

Scarica il libro completo da questo sito

Cc Devana 2016

 

I RACCONTI DEL RISVEGLIO PER LE BAMBINE E LE LORO MAMME:  ROSAURA

Rosaura: disegno originale di Manuela Biave

In una terra felice, nacque alla giovane Regina regnante una bella bambina, vivace e sana. In quella terra erano le regine a guidare il popolo e tutti erano contenti e avevano di che vivere agiatamente secondo le loro necessità. Quando nasceva una bimba l’evento era sempre salutato come una grande fortuna. Se, poi, quella bimba era la figlia della Regina regnante, il popolo era felicissimo poiché si assicurava la continuità nella guida da parte di una donna che fin dall’infanzia veniva addestrata e preparata al suo futuro compito. E tale fu anche il destino di Rosaura: questo il nome che le fu messo, poiché era nata proprio all’alba dell’equinozio di primavera. Nel momento esatto in cui la sua testolina faceva capolino dal corpo della sua mamma il cielo era rosa e preannunciava un fortunato giorno soleggiato e tiepido.

Per preparare l’erede al trono al suo ruolo di guida vennero convocate dai quattro angoli del mondo le sette Savie che avrebbero avuto il compito, e l’onore, di addestrare la principessina. Queste sette donne di grande intelligenza e profondissima cultura ed esperienza si presentarono alla reggia al termine di tre volte tredici  lune dalla cerimonia dell’acqua con cui Rosaura fu accolta nella comunità. Le sagge nonne condussero la principessina nel bosco, in una capanna che veniva utilizzata solo per l’addestramento delle principesse, mentre la mamma la guardava allontanarsi dalla grande finestra della sua dimora con un po’ di tristezza. Rosaura sarebbe vissuta con le buone nonne, nel bosco, per tredici volte tredici lune. Poi sarebbe tornata alla Reggia e avrebbe guidato il suo popolo, inizialmente affiancando la mamma e poi, una volta che si fosse sentita pronta, da sola.

Le sette Savie si chiamavano: Assiotea, Ipazia, Lastenia, Ildegarda, Brida, Myriana, e Gabriela. Assiotea era Maestra di tutti i fenomeni della natura e conosceva i nomi di tutti gli Spiriti guardiani dei luoghi, Ipazia conosceva i movimenti delle stelle del sole e della luna, Lastenia danzava e cantava e conosceva ogni musica e ogni suono della natura. Ildegarda aveva il sapere delle erbe e dei funghi che permettevano di viaggiare in altri mondi senza il corpo. Inoltre cucinava piatti che guarivano ogni malattia. Brida era Maestra di sciamanismo, conosceva la giusta cerimonia per ogni cosa e col suo telaio tesseva arazzi con fili incantati che aiutavano a memorizzare le storie senza fatica. Myriana era esperta nell’arte alchemica, sapeva creare pozioni, ottenere metalli pregiati dalla roccia e raggiungere il luogo dove la mente era in pace. E infine Gabriela era Maestra di poesia e spesso aiutava Lastenia nel creare canzoni dolci e struggenti che incantavano tutti gli esseri viventi e servivano a ricordare le grandi e piccole azioni.

Rosaura era felice con le sette nonne. La sua vita era piena e gaia e le sagge donne facevano in modo che si abituasse a mantenere il sorriso nonostante il carico di responsabilità e la mole di studio che affrontava ogni giorno. Di tanto in tanto tornava alla Reggia per passare un breve periodo con i suoi genitori. Ma perlopiù la sua giornata era scandita dalle lezioni e dalle ore di pratica oltre alle passeggiate nel bosco con Assiotea e Ildegarda che le insegnavano a riconoscere le erbe e i luoghi di potere, dove poi tornava con Brida per celebrare un rito allo Spirito Guardiano o con Lastenia e Gabriela per danzare e cantare tra gli alberi invocando le Sacre Presenze della Madre Natura. Di notte spesso stava fuori avvolta in una calda coperta ad ascoltare Ipazia che le descriveva le influenze celesti sulla vita terrestre e come sfruttarle a vantaggio del suo popolo.

Un giorno per sfuggire a un temporale si rifugiò in una grotta che aveva scoperto durante le sue quotidiane passeggiate nel bosco. La grotta, nella quale non era mai entrata prima, si trovava al di là di un fiumiciattolo che le piaceva attraversare a piedi nudi anche d’inverno. Dentro era buio. Rimase ferma per abituare gli occhi all’oscurità e quando ciò avvenne si accorse che si trovava esattamente al centro dei resti di un cerchio di pietre all’interno del quale, in un angolo, c’era quello che sembrava un forno di argilla a due piani dove si poteva riconoscere il posto per il fuoco nella cavità inferiore e quello per i tegami sul piano superiore. Nell’angolo opposto Rosaura scorse i resti di un telaio, di forma strana, con ancora fissati dei brandelli di fili tessuti. Si sentì irresistibilmente attratta dal telaio. Lo prese delicatamente in mano e sedette con la schiena appoggiata a una pietra e gli occhi chiusi.

All’improvviso fu proiettata come in un altro… tempo.

 Si trovava sempre nella grotta, ma… quale meraviglia!!!

Le pareti erano coperte di arazzi colorati e così pure il terreno. Ovunque ardevano ciotole di olio profumato che illuminavano l’ampia caverna come il salone di un palazzo. E vi erano donne magnificamente abbigliate, sebbene i loro abiti fossero di una foggia che Rosaura non aveva mai visto. Sembrava che stessero festeggiando qualcosa. Tutte danzavano e cantavano. Alcune suonavano tamburelli e altri strumenti che ricordavano i suoni della Natura. La visione durò qualche minuto.

  • Ma che strano…– pensava Rosaura – mi sembra proprio che… quella splendida fata mi stia guardando. Sembra che… mi veda!!.

In effetti una delle donne della visione, quella che sembrava avere più autorità tra tutte, percepì la presenza della fanciulla come se fosse stata davvero lì con loro. La guardò. E in quel momento Rosaura si sentì come risucchiata all’indietro e si ritrovò al buio con la schiena contro una pietra, bagnata e infreddolita, stringendo tra le mani un vecchio telaio.

Corse a casa a raccontare l’accaduto alle nonne, le quali, dopo aver ascoltato in silenzio fino all’ultima parola, decisero che il giorno dopo avrebbero fatto tutte insieme una visitina alla grotta misteriosa.

E così fu. Il giorno dopo il sole splendeva e Rosaura, accompagnata dalle sette Savie, si recò alla grotta subito dopo colazione. Il vecchio telaio era ancora a terra dove lo aveva lasciato la sera prima. La Maestra Brida fu la prima a riconoscerlo nell’oscurità e si avvicinò con cautela, prendendolo in mano come una reliquia. Le altre donne si misero intorno a lei e tutte insieme cominciarono a cantare e a invocare, muovendosi in circolo, le antiche presenze delle donne che avevano vissuto in quella grotta. Dopo un po’ riapparve la scena che già Rosaura aveva visto il giorno prima. Ma questa volta le due si fusero in una sola e, come se il tempo fosse stato annullato, le sette Savie e la principessina si trovarono proprio nel cuore della festa che si stava dando in quella sala, insieme alle donne antiche.

Colei che già il giorno prima aveva guardato Rosaura le si avvicinò e le parlò. Era altissima e con una complessa acconciatura di capelli castani che formavano come una corona. La guardò negli occhi e le prese le mani.

  • Sono Tara, – le disse – manifestazione vivente della Grande Dea Madre. E tu sei colei che ci è stata inviata per apprendere la magia degli arazzi.

Né Rosaura né le sue sette Maestre comprendevano il messaggio. Allora Tara offrì loro una bevanda dolce e densa che aprì la loro mente e le aiutò a vedere più lontano. E cominciò a raccontare.

  • Quando vivevamo in questa terra, le mie sorelle ed io, praticavamo la Sacra Arte della Tessitura che apprendemmo direttamente dalla Dea. Macinavamo in polvere fine le pietre preziose che trovavamo camminando nei cunicoli della Terra. Poi la univamo a resina e linfa e con quella pozione coloravamo la lana delle nostre pecore. Quella lana poi filata e tessuta creava i nostri magici arazzi che avevano la capacità di annullare lo spazio e il tempo e di farci viaggiare ovunque volessimo e incontrare sorelle e fratelli del passato e del futuro. Tu Rosaura sei stata convocata in questo luogo per riportare nel mondo dei viventi questo antico sapere. Ma per farlo dovrai affrontare una prova impegnativa. Te la senti?
  • E cosa dovrei fare? – chiese Rosaura un po’ spaventata
  • Dovrai bere una pozione che ti farà dormire in questa grotta per 28 notti e 28 giorni senza mai svegliarti. Durante questo lungo sogno ti verranno insegnati i segreti dei nostri arazzi affinché tu possa scriverli e trasmetterli a tua Madre e alle tue Maestre. E affinché tu possa tessere un arazzo magico che ti consenta di viaggiare come facevamo noi in ogni luogo e tempo. Accetti?
  • Il desiderio di conoscenza è più forte della paura – rispose Rosaura.

Così Tara si avvicinò alla Maestra Ildegarda e le spiegò come preparare la pozione utilizzando il fungo Muscaria, la pianta Vischio e la radice Mandragola bolliti.

Poi la visione cominciò a sbiadire. In poco tempo la grotta tornò buia e Rosaura e le sue Maestre si ritrovarono di nuovo sole. Tornarono a casa e quella notte stessa fu preparato tutto ciò che occorreva alla principessina per il suo lungo sonno. Ognuna delle sette Savie volle darle un dono. Ildegarda preparò la pozione e la dolcificò con miele dorato; Brida le diede una calda coperta che lei stessa aveva tessuto affinché si avvolgesse ben bene e non prendesse freddo; Gabriela e Lastenia composero un canto per accompagnarla dolcemente mentre si addormentava. Ipazia invocò gli astri affinché fossero propizi e Assiotea fece lo stesso con gli Spiriti Guardiani della grotta. Infine Myriana le insegnò come separare senza dolore il suo corpo dalla mente per viaggiare velocemente nella visione.

Con questi doni Rosaura tornò nella grotta la notte seguente. Trovò una grande roccia piatta che assomigliava a un letto. Si avvolse nella sua calda coperta e dopo aver invocato la protezione degli Spiriti e della Dea Madre, bevve la pozione, si stese sulla roccia e si addormentò profondamente.

Viaggiò oltre montagne e oceani, sopra i tetti dei palazzi e le immense praterie. E alla fine del viaggio si trovò nuovamente nella grotta ma insieme a Tara e alle sue sorelle che tessevano. Stette con loro nel passato per 28 giorni, mentre il suo corpo dormiva nel presente. E imparò a macinare le pietre, a tingere le lane e a tessere coi nodi dei desideri accompagnando con il respiro i movimenti delle mani. Quando ebbe memorizzato tutto, Tara la abbracciò.

  • Ora che sai come fare potrai tessere tu stessa il tuo arazzo da viaggio e venire qua ogni volta che lo desideri. Usa questo sapere per il bene del tuo popolo. Grazie all’arazzo magico, potrai cercare le risposte e la conoscenza in ogni luogo e questo ti aiuterà ad essere una buona Regina e una buona guida per la tua gente.

Rosaura ringraziò la bella donna e cominciò a lasciarsi risucchiare all’indietro dal suo corpo sdraiato sulla roccia. Quando si destò, trovò intorno a sé le buone nonne che attendevano il suo risveglio. Avevano portato pergamene e inchiostro per scrivere subito i segreti della magica arte di tessere, affinché non andassero di nuovo dimenticati. E proprio con quel lungo sogno Rosaura aveva concluso il suo periodo di apprendistato, cosicché ora era pronta per tornare alla reggia e prendere il suo posto accanto alla Regina sua Madre.

Le pergamene furono depositate nella biblioteca con tutti gli onori e da allora quella terra che già era felice lo è ancora di più poiché Rosaura e le sue eredi tessono meravigliosi arazzi per viaggiare tra i mondi.

Scarica il libro completo da questo sito

Cc Devana 2016

I RACCONTI DEL RISVEGLIO PER LE BAMBINE E LE LORO MAMME: UNGHIOLINA

Nel disegno di Manuela Biave la mia versione della fiaba dove la strega recupera il suo vero volto di pasticcera

Annetta era la più piccola di 13 sorelle. Era minuscola ma sveglia e di intelligenza prontissima. La chiamavano Unghiolina, tanto era piccina. La bimba viveva con le sorelle e i genitori in una grande casa di legno nel bosco. Il padre era taglialegna e la madre lavandaia. Tutte le sorelle aiutavano a mettere del cibo in tavola ogni giorno. Chi raccoglieva pigne, chi tuberi, chi erbe spontanee e chi uova di animali selvatici. Insomma si arrangiavano e la sera la mamma leggeva loro un bel racconto di fate prima che andassero a dormire tutte insieme nella grande stanza sotto il tetto. Ma il padre un giorno decise di abbandonarle nel bosco affinché trovassero la loro via nella vita e imparassero a provvedere a se stesse. E nessuna supplica della moglie lo convinse a cambiare idea.

Unghiolina, che aveva sentito il progetto da sopra la scala, avvertì le sorelle cosicché il mattino dopo, quando il padre le chiamò per andare, esse erano pronte. Avevano preparato degli involti fatti con le lenzuola e vi avevano stipato tutti i loro indumenti e del cibo supplementare preso dalla cantina durante la notte. Sapevano ciò che le aspettava e non si fecero illusioni, poiché conoscevano il padre. Quando venne il momento di uscire, le sorelle in fila baciarono la mamma che non riusciva a trattenere le lacrime. Lei sapeva e loro pure. Perché fingere? Il loro cuore era colmo di desolazione. Ma Unghiolina era sempre stata fiduciosa e solare e confidava che anche questa volta la sua buona stella l’avrebbe guidata e aiutata a portare in salvo se stessa e le sue sorelle. Partirono dietro al padre che le lasciò, dopo qualche ora di cammino, in mezzo a una radura con la vana promessa di tornare a prenderle al tramonto.

Unghiolina aveva un dono speciale: sapeva parlare agli alberi. Non con la voce… con la mente. Li capiva e loro capivano lei. Avrebbe chiesto agli alberi di guidarla insieme alle sue sorelle in un luogo sicuro per la notte. E infatti, come il padre si fu allontanato, le sorelline non persero nemmeno un istante in inutile attesa. Unghiolina si mise in contatto mentale con un frassino che sembrava guardarla e gli chiese se conosceva un posto dove avrebbero potuto chiedere ospitalità. Il frassino le indirizzò verso ovest e disse ad Unghiolina di chiedere al prugnolo dopo 4 miglia. E così fu fatto. Ma, le disse il frassino, “l’unica casa nel bosco è quella dell’orchessa che mangia i bambini”. La bimba non si lasciò impressionare e decise che valeva la pena tentare. Quando incontrarono il prugnolo, esso le fece proseguire per qualche altro miglio sempre verso ovest fino ad incontrare il castagno, ma, le mise in guardia, “l’unica casa nel bosco è quella dell’orchessa che mangia i bambini”. Di nuovo Unghiolina ascoltò il suo cuore che le diceva di stare tranquilla e si incamminò, con le sorelle, nella direzione indicatale. Quando incontrarono il castagno era quasi buio e la bimba si mise in contatto con lui per chiedere nuove indicazioni. Il castagno disse che la casa non era lontana, giusto qualche altro miglio verso nord ovest, ma disse “è quella dell’orchessa che mangia i bambini”. Dopo aver ringraziato l’albero, Unghiolina, la più piccina di tutte,  proseguì indomita nell’oscurità, seguita dalle sorelle che si facevano coraggio dietro di lei.

Giunsero alla radura indicata e videro una bella casetta di legno col tetto di paglia e un invitante fumo che usciva dal comignolo. Unghiolina fece restare tutte in silenzio per qualche istante e si collegò mentalmente al luogo. Nonostante quello che si diceva non percepì alcuna minaccia.

Beh – pensò – se questa orchessa mangia i bambini deve mangiare proprio tutto di loro, anche i sentimenti e i pensieri perché qui non sento nessuna paura.

La bimba bussò alla porta. Le sorelle dietro di lei ammucchiate. Si sentirono dei passi lenti provenire dall’interno e avvicinarsi alla porta. Poi si aprì uno spioncino e un occhio chiaro frugò all’esterno vedendo solo le sorelle più alte.

  • Chi bussa?
  • Buona nonnina, facci entrare, siamo 13 sorelle sperdute e affamate – supplicò la vocina di Unghiolina che proveniva da sotto lo spioncino
  • Ma non sapete chi sono? Non avete paura?
  • Sì nonnina, abbiamo paura. Ma abbiamo anche fame freddo e sonno e non abbiamo scelta. O morire sui tuoi fornelli o morire nel bosco

La porta si aprì. Le sorelle entrarono. La casa era in ordine e pulita: si sentiva un meraviglioso profumo di dolcetti, di zenzero, uvetta passa, chicchi di cacao e mele e mirtilli e frutta candita. L’”orchessa” era una vecchina scarmigliata, con una lunga camicia da notte e un grembiule da cucina coperto di zucchero a velo e cannella.

  • Per stanotte vi darò da mangiare e da dormire e domani ve ne andrete – disse senza guardarle

Le sorelle furono ben contente di aver trovato riparo almeno per una notte e accettarono con gratitudine il buon cibo che la nonnina metteva loro nel piatto. Ma Unghiolina non mangiò nulla. Non staccò mai gli occhi di dosso dalla donna. La osservò dentro, come faceva con gli alberi, e non trovò nessuna traccia di cattiveria o di pericolo nel suo cuore. Decise tuttavia di stare al gioco per quella notte. L’indomani se ne sarebbe riparlato. Trascorsero una notte serena, le tredici sorelle, al sicuro nella casetta che profumava di bosco e di dolci. La mattina la nonnina preparò loro una colazione come non ne avevano viste nemmeno a Natale. Mangiarono tutto e raccolsero anche le briciole con le dita. Poi la donna disse, strascicando le parole come se fosse triste:

  • ora ve ne dovete andare.

Unghiolina la guardò intensamente e le disse

  • tu non mangi i bambini buona nonnina. L’ho letto nel tuo cuore. Perché si sono inventati queste storie su di te?

La nonnina sembrava imbarazzata e disorientata. Non rispose. Era visibilmente a disagio. Si agitò e disse di nuovo:

  • andatevene immediatamente prima che cambi idea e vi arrostisca

Ma Unghiolina non si mosse. Continuò a guardarla dritta nel cuore. Poi le si avvicinò e le prese la mano. “ti hanno fatto del male povera nonnina?”. E dalle labbra della anziana donna uscì come un singhiozzo. “Raccontaci la tua storia” insistette Unghiolina piantata davanti a lei. E la vecchina, travolta dalla dolcezza di quella voce e dalla fermezza di quella manina, si convinse e cominciò a raccontare.

  • Il mio nome è Katharina ed ero la più abile pasticcera della regione. I miei dolci erano così leggeri che si scioglievano in bocca tanto che il re non ne voleva altri che i miei. Mi mandò a dire che dovevo lasciare la mia cucina nel villaggio per venire qui e cucinare solo per lui, in solitudine. Fui felice di servire il re sebbene mi sentissi molto sola. Ma gli altri pasticceri, gelosi, volevano conoscere il segreto della leggerezza e della fragranza dei miei dolcetti. Vennero di notte, mi legarono e mi lasciarono senza acqua né cibo molto giorni per estorcere il mio segreto. Però io non cedetti e alla fine se ne andarono a mani vuote. Tornando al villaggio però cominciarono a spargere la voce che la pasticcera Katharina era impazzita e si era trasformata in un’orchessa. Dissero che cucinavo e mangiavo i bambini e questa voce si diffuse in tutta la regione arrivando anche alle orecchie del re il quale non mandò più a prendere i dolci. Finché qui non passò più nessuno e io rimasi completamente sola.

La vecchia Katharina tirò su col naso e terminò il suo racconto. Unghiolina le stava ancora tenendo la mano

  • Ma questo equivoco deve essere chiarito. – commentò appassionatamente – domani andremo insieme al villaggio e racconteremo tutto. Diremo come sono andate davvero le cose e vedrai che non sarai più sola.
  • Io non voglio tornare mai più al villaggio. – rispose la Katharina – sono qui da così tanti anni e mi sono abituata alla mia solitudine. Ormai il mio cuore si è asciugato e non soffro più.
  • Allora – replicò la bimba comprendendo quanto invece era disperatamente triste l’anziana pasticcera – dopo aver raccontato la verità torneremo qua tutte insieme nonnina e, se ci vorrai, staremo con te, diventeremo le tue apprendiste e ti aiuteremo a cucinare dolci per tutti coloro che ne vorranno.

E così fu fatto. L’indomani l’anziana donna, per mano alla minuscola Annetta che camminava con passo sicuro e deciso, fece il suo ingresso nel villaggio dopo tanti anni di assenza. La bimba si fermò nella piazza e salì in piedi sul basamento della colonna con la croce. Convocò un’adunanza e raccontò la vera storia della pasticcera Katharina. Le persone all’inizio non si fermarono nemmeno ma poi, piano piano, cominciarono ad ascoltare, dalle finestre aperte delle case e da dietro le porte. Alla fine del racconto tutti, grandi e bambini, erano raccolti intorno alla colonna nella piazza e guardavano timidamente la pasticcera e le toccavano la spalla e il braccio. Katharina non sapeva cosa fare ma a Unghiolina venne un’idea

  • Domani faremo una festa nel bosco, nella casa dei dolci, e Katharina ne cucinerà tanti quanti non avete mai mangiato in vita vostra. Siete tutti invitati. E da domani in poi potrete venirne a prendere quando vorrete.

Poi tornarono alla casetta nel bosco e impastarono infornarono e zuccherarono tutto il giorno e parte della notte. Quindi le sorelle tornarono dai loro genitori con un sacco pieno di cibo. La madre le abbracciò col cuore pieno di gratitudine e il padre pentito chiese loro perdono, che gli fu accordato. Ma le sorelle non restarono coi genitori. Dopo aver lasciato il sacco e aver promesso alla mamma che sarebbero tornate a trovarla, volsero le spalle al passato e si diressero sicure verso il bosco, dalla pasticcera Katharina dove, tutte insieme, crearono la più grande e felice casetta di dolci di tutte le montagne. La pasticcera fu aiutata a pettinarsi e cambiarsi e le fu fatto indossare un grembiulone pulito tutto colorato. Il suo viso si trasformò e ritornò giovane. Gli occhi ridenti e le fossette sempre disegnate dal sorriso che ormai non la abbandonava più. La casetta divenne famosa e le 14 pasticcere ricevevano ordinazioni da lontano, anche da oltre mare, dalla terra dei sultani e dei marajà. La storia dell’orchessa fu dimenticata e Katharina recuperò pienamente il suo onore. I bambini che ogni giorno andavano a fare merenda alla casetta di dolci divennero così numerosi che si dovette costruire una grande casa solo per loro, con una enorme tavola sempre apparecchiata e la caraffa della cioccolata sempre calda e densa al punto giusto.

Scarica il libro completo da questo sito

Cc Devana 2016

I RACCONTI DEL RISVEGLIO PER LE BAMBINE E LE LORO MAMME: FIORDIPEPE

Fiordipepe: disegno originale di Manuela Biave

La piccola Fiordaliso nacque da una famiglia semplice e modesta. Il papà lavorava nei campi, quando poteva, e intagliava vasellame nel legno; la mamma, che adorava la sua bella bambina, tesseva e cuciva. La piccola Fiordaliso era vivace e curiosa tanto che la mamma la soprannominò Fiordipepe. Le sue domande sulla Vita e sui Figli della Terra, del Cielo e dell’Acqua erano infinite e sempre più sottili. La mamma non era in grado di risponderle e già a quattro anni la bimba vagava ore e ore nel bosco facendo domande alle radici, alle foglie, ai tordi e alle lepri.

Perché dopo la luce viene il buio? Cosa sono le luci che si vedono in cielo di notte? Da dove vengono i cuccioli? E i frutti? E i germogli? Come fanno gli insetti a vivere sotto terra? E come fanno gli uccelli a trovare il loro nido? Da dove viene la pioggia? E così via, giorno dopo giorno. La sete di conoscenza della bambina era insaziabile.

Quando compì sette anni, la mamma, comprendendo che la sua piccola aveva bisogno di una maestra, la condusse al palazzo della buona Regina per chiederle che la prendesse sotto la sua protezione. La Regina osservò Fiordipepe con interesse, le offrì dei dolcetti e le fece molte domande per valutare le sue potenzialità.

  • Sì, madama – disse infine la Regina alla mamma – vostra figlia ha davvero delle qualità rare ed è giusto che vengano coltivate. Ma dovrà dimostrare di meritarlo. L’istruzione viene impartita durante moltissimi cicli solari e la vita delle fanciulle che vi si dedicano è solitaria e ritirata. Sarà capace la vostra piccola di sopportarla?
  • Sì Maestà – rispose Fiordipepe anticipando la mamma – desidero conoscere i segreti della Vita e soprattutto cosa avviene quando i corpi cadono a terra e non si rialzano più… in quale altro mondo si risvegliano?
  • Bene Fiordipepe – assentì la regina, strizzando l’occhio alla mamma con approvazione – se pensi di poter resistere sarai accontentata. Domattina all’alba partirai con la Maestra della Vita che ti porterà nel folto del bosco. Là dimorerai in una torre dalla quale non potrai uscire per tutta la durata del tuo apprendimento. La Maestra verrà ogni mattina e rimarrà con te tutto il giorno fino al tramonto, insegnandoti i segreti delle stelle, delle piante e degli animali. Non dovrai mai tagliare i tuoi capelli. Quando essi potranno interamente coprire il pavimento della torre con una spirale, allora sarai pronta per la Grande Scelta.
  • E qual è questa scelta? – chiese la bimba senza ombra di timidezza, preoccupando la mamma per la sua temerarietà
  • Lo saprai a tempo debito – rispose la Regina e la congedò con una carezza

Quella notte la bimba non riuscì a prendere sonno dall’eccitazione. All’alba venne la Maestra della Vita, che era una donna anziana ma ancora molto forte, con un viso sorridente e occhi pazienti. Fiordipepe era pronta già da molte ore ma non pensava che sarebbe stato così difficile separarsi dalla mamma.

Infine partirono e camminarono per molte ore. Quando il sole fu alto giunsero nel mezzo del bosco. Laddove nessun essere umano poteva arrivare se non guidato. La torre era di pietra, costruita con enormi blocchi che già suscitarono le prime domande in Fiordipepe. Ma la cosa più strana era che non c’era la porta. Solo una finestra in alto. <Come entreremo?> Si chiese la piccola. Ma la Maestra accostò una lunga scala che stava nascosta in mezzo agli alberi.

  • Così si sale e così verrò da te ogni giorno finché starai qua. Ma tu non potrai lasciare la torre finché i tuoi capelli non saranno abbastanza lunghi. Ti porterò ogni volta cibo fresco e acqua per le tue necessità.

La torre all’interno era accogliente. C’erano libri accatastati alle pareti, pergamene su ampi scaffali, strani strumenti per misurare, tritare, riscaldare, mescolare. Ma la cosa più affascinante era il tetto a punta. Era una specie di enorme cannocchiale per guardare le stelle. Fiordipepe se ne accorse quando, alla fine della giornata in cui le sue infinite domande avevano trovato altrettante sagge risposte, il cielo si scurì e guardando in alto si potevano vedere distintamente le forme create dalle stelle che si univano.

La Maestra lasciò la torre solo quando la ragazzina esausta si addormentò sull’ultima domanda senza riuscire nemmeno a finire la frase. La saggia donna la mise a letto, le rimboccò le coperte, poi si calò lungo la scala e sparì nel bosco.

Così, tra domande e risposte, le giornate nella torre passavano veloci e i capelli crescevano. Fiordipepe osservava dall’alto e tutto intorno la vita nel bosco grazie ai diversi strumenti per ingrandire. Inoltre apprendeva dai libri e dalle pratiche. La Maestra, poi, le portava ogni giorno nuove piante, pietre e animali con cui approfondire la sua conoscenza. E la sera osservavano e studiavano il cielo finché Fiordipepe non si addormentava.

Un giorno, dopo molti cicli solari,  la fanciulla decise di provare a disporre i suoi capelli sul pavimento. In effetti erano lunghissimi perché non erano stati più tagliati. Camminò a spirale lasciandoli cadere dietro di sé. Ma quando fu al centro si accorse di un particolare che non aveva mai notato prima: nel centro esatto c’era una botola!

Si bloccò! Rimase immobile per alcuni minuti mentre il suo corpo tremava. Poteva uscire dalla torre? Non si era mai accorta prima in tanti cicli solari che ci fosse un’apertura… Però se fosse stata una prova? Se aprendo la botola avesse compromesso tutto?

Decise di tentare affidandosi al cuore della Dea. Con la spranga che usava per fissare le persiane fece leva e la botola si aprì rivelando una scala che scendeva a chiocciola. Fiordipepe deglutì più volte mentre sentiva le gambe diventare molli. Poi prese coraggio: il desiderio di conoscenza era più forte della paura. Afferrò una lanterna a olio e cominciò a scendere trascinandosi dietro i capelli come un mantello.

Mentre scendeva aveva l’impressione di entrare in un altro mondo. Le pareti di terra brillavano al passaggio della sua lanterna, come pietre preziose nascoste nell’oscurità. E così pure le ali e le corazze degli insetti che vivevano sotto terra. Un mondo misterioso le si rivelava durante la sua discesa. E più si avvicinava al fondo più alle sue orecchie giungeva rumore di acqua. Quando giunse alla fine della scala, davanti a lei si apriva un pozzo largo quanto la torre stessa. Si sporse e guardò dentro. Vide se stessa reggere la lanterna e, mentre si guardava riflessa, si sentì chiamare dalla superficie calma e scura dell’acqua. Finché si abbandonò al richiamo e cadde nel pozzo.

Mentre cadeva, o forse veniva risucchiata, o magari spinta, vide interi mondi scorrerle accanto contenuti in minuscoli granelli di terra. E fu sicura che ogni granello di terra fosse un pianeta che ospitava diverse forme di vita. Nella sua testa una voce dolcissima le sussurrava:

  • Questo è l’Ingresso alla Sacra Creazione, tutto ciò che esce entra, tutto ciò che entra esce

Fiordipepe in quell’istante comprese come tutte le forme di vita sono specchio le une delle altre, così come le stelle lo sono dei granelli di terra. Giunse alla fine della sua caduta e si trovò in un meraviglioso giardino pieno di fiori di ogni colore e dimensione. E in mezzo ai fiori, sorridente, l’aspettava la Maestra della Vita che reggeva un meraviglioso abito color arcobaleno.

  • Brava Fiordaliso – disse in tono cerimoniale – hai superato la prova. Hai vinto le tue paure per amore della conoscenza, hai visto che per ogni torre c’è un pozzo, per ogni stella un granello di terra, per ogni fuori c’è un dentro e per ogni sopra c’è un sotto. Tutto è uno specchio nel mondo dei viventi. Lo hai sperimentato da sola e ora, dall’altra parte dello specchio d’acqua, sei giunta nel mondo dove si risvegliano coloro il cui corpo cade per terra e non si rialza più. La tua ultima e più profonda curiosità è stata soddisfatta e la tua preparazione è completa. Da questo momento potrai arricchirla soltanto con la tua esperienza e osservazione personale. Questo è l’abito che viene offerto alle fanciulle che completano l’addestramento, quando affrontano la Grande Scelta.
  • E quale sarebbe? – chiese Fiordipepe con la stessa voce che qualche ciclo prima, ancora bambina, aveva usato di fronte alla Regina facendo preoccupare sua madre.

La Maestra della Vita rise dolcemente e la invitò ad abbracciarla.

  • La scelta, fanciulla fortunata, è tra tornare nel mondo e vivere una vita normale tra gli altri, oppure rimanere con noi Maestre della Vita per istruire, quando verrà il momento, qualche altra fanciulla curiosa e dotata, che avrà bisogno di una guida.

Fiordipepe non ebbe bisogno di pensarci neanche un istante. Tanto era ciò che aveva ricevuto durante il periodo trascorso nella torre. E tanto piene e ricche erano state le sue giornate che volentieri avrebbe dedicato la sua esistenza a restituire tanta fortuna a qualche altra fanciulla degna di essere istruita. La Maestra non ebbe bisogno di parole per sapere quale fosse la sua scelta. Le fece alzare le braccia e… ecco… in un baleno la veste avvolse il giovane corpo come una seconda pelle e la fanciulla si illuminò di una luce serena e profonda.

E in un attimo si ritrovò di nuovo nella torre. Di fronte a lei c’era una porta aperta verso il bosco. Uscì nel sole splendente per tornare dalla sua mamma e salutarla un’ultima volta prima di unirsi alle altre Maestre della Vita nel bosco di cui ora faceva parte.

Scarica il libro completo da questo sito

Cc Devana 2016

I RACCONTI DEL RISVEGLIO PER LE BAMBINE E LE LORO MAMME: CANTANEVE

Cantaneve: disegno originale di Manuela Biave

C’era una volta una deliziosa ragazzina, snella e agile, dalle guance paffute e dai lunghi capelli scuri, morbidamente ondulati. Il suo nome era Petronilla. Amava vestirsi con abiti colorati, era sempre allegra e cantava spesso. Le piaceva andare nel bosco e incontrare gli animali selvatici. Parlava con le pietre e con gli alberi ma, soprattutto, cantava alla Neve. Per questo la sua adorata mamma l’aveva affettuosamente ribattezzata CantaNeve. Infatti quando nevicava, la ragazzina si affacciava alla finestra della sua stanza e cantava, convinta che il suo canto, la sua voce, potesse creare dentro ai fiocchi di Neve delle strane, magiche figure a forma di cristallo.

Avendo saputo di questa sua capacità, la Regina di quella terra un giorno la mandò a chiamare. La ragazzina, di fronte a quella Donna così bella e sapiente, si sentì un po’ intimidita. Tuttavia la Regina la chiamò a sé e la rassicurò con parole dolci

  • Non preoccuparti bambina, non voglio farti alcun male. Sono io ad aver bisogno del tuo aiuto
  • E come maestà?
  • Da qualche giorno la mia cara Cerva, mia protettrice e compagna, se n’è andata nel bosco e non è più tornata. Temo che sia rimasta bloccata dalla Neve. Forse sta morendo. Ti prego, chiedi alla Neve. Forse il canto dei fiocchi di Neve saprà indicarti dove si trova la mia Cerva. Senza di Lei non posso governare saggiamente questa terra, Lei rappresenta il mio contatto con la Grande Dea Madre e attraverso di Lei mi giunge la voce della Signora di tutti i viventi.
  • Va bene… – rispose in un sussurro CantaNeve – proverò!

La ragazzina tornò a casa per avvertire la mamma dell’incarico che aveva ricevuto dalla Regina. Si coprì adeguatamente, con stivali e mantella, si mise guanti e berretto e partì col suo zufolo, per accompagnarsi nel canto. La Neve era molto alta e a tratti CantaNeve non riusciva nemmeno a proseguire. In alcuni punti le arrivava alla vita e le bloccava le gambe. Allora cantava e la Neve si scioglieva permettendole di continuare il suo cammino.

A un certo punto giunse di fronte alla Grande Montagna. Non poteva proseguire da sola, tuttavia sentiva che da qualche parte al di là della Montagna, la Cerva la stava aspettando: la Neve glielo diceva. Così si sedette sotto le fronde di un grande pino e si mise in attesa. Dopo qualche tempo giunse una slitta tirata da tre enormi cani con il pelo argentato, iridescente, che brillava nel crepuscolo. I cani fermarono la slitta davanti al pino e stettero lì, immobili, come per invitarla a salire. CantaNeve vi prese posto e si imbacuccò ben bene con la calda coperta che trovò sotto il sedile. Non appena fu pronta, i cani partirono al galoppo e la condussero attraverso la Montagna, oltre cunicoli e grotte che solo loro conoscevano. La slitta sbucò dall’altra parte, tra alberi e cespugli ammantati di fiocchi di Neve che brillavano come stelle. CantaNeve era senza parole. La bellezza del bosco, del silenzio, dell’aria che le attraversava i capelli era tale da toglierle il fiato. Non era mai stata così lontana dalla sua casa. Eppure non aveva paura. Confidava nei cani ed era sicura che avrebbe trovato la Cerva, poiché il desiderio del suo cuore era aiutare la Regina.

Dopo un bel galoppare, durante il quale la notte aveva sostituito il crepuscolo, giunsero in una specie di avvallamento dove la Neve cominciava a sciogliersi. Da lontano CantaNeve vedeva come un bagliore dorato tra gli alberi. Sembrava il riverbero di un fuoco. I cani vi si stavano dirigendo magicamente. Mentre osservava la Neve via via sciogliersi, arrivarono quasi alla radura. Quasi… perché a un certo punto i cani dovettero fermarsi in quanto… non c’era più Neve sulla quale slittare.

CantaNeve scese dalla slitta, accarezzò i cani e bisbigliò loro – aspettatemi qui fratelli miei!!!

Poi camminò verso il fuoco intorno al quale uno strano gruppo di Donne anziane la stava aspettando. Erano le sette Maghe del bosco e la attendevano sedute in cerchio. Sopra al fuoco, in mezzo al cerchio di Donne sedute, un pentolone emanava un irresistibile profumo di zuppa. CantaNeve si ricordò che era digiuna dal mattino, quando aveva fatto colazione con la sua mamma. Il rumore del suo stomaco era inconfondibile. Deglutì.

Le sette Donne le fecero cenno di sedere. C’erano otto sgabellini intorno al fuoco. Uno di questi, sistemato ad est, era vuoto e sembrava aspettare proprio lei. Le Nonne, che assomigliavano ad anziane fate, erano vestite con lunghe tuniche, morbidi mantelli e cappucci dei sette colori dell’arcobaleno, ognuna di loro ne vestiva uno. Le fu offerta una ciotola di zuppa calda e saporita, un cucchiaio di legno e una fumante tazza di infuso di bacche. CantaNeve mangiò di gusto. La zuppa era densa, saporita e un po’ piccante. Aveva sapore di bosco, di corteccia, di foglie e di bacche. E la riscaldava dentro e fuori. Si sentiva leggera, felice, fiduciosa e piena d’amore.

Dopo aver ripulito la ciotola cominciò a guardarsi intorno in attesa che le Nonne le parlassero, giacché fino a quel momento nessuna di loro aveva fiatato. Le sette Maghe si presentarono, una alla volta. Erano gli Spiriti Guardiani dei sette mondi – le Nonne del Nord, dell’Est, del Sud e dell’Ovest, La Nonna del Cielo, La Nonna della Terra e la Nonna Guardiana proprio di quel bosco. Le sette Donne si riunivano in quel luogo una volta l’anno, nella notte in cui Spiriti e Umani possono vedersi E in quella notte, esse  si raccontavano ciò che avevano fatto nel corso delle ultime tredici lune e come avevano governato le loro terre. Ciascuna di loro raccontò a CantaNeve la sua storia e descrisse la sua casa.

Poi la Donna Guardiana del Bosco le chiese di raccontare loro la sua storia. Così CantaNeve rivelò lo scopo della sua venuta: trovare la Cerva della Regina e riportargliela. E raccontò alle Nonne anche della sua capacità di creare cristalli nei fiocchi di Neve con il suo canto. Affascinate le sette Donne le chiesero di cantare per loro e le misero davanti una grande ciotola di Neve che era stata conservata lontana dal fuoco affinché non si sciogliesse. CantaNeve, felice di condividere il suo dono, cominciò a cantare, accompagnandosi con lo zufolo. E mentre la sua voce argentina vibrava tra gli alberi, la ciotola di Neve mandava bagliori. Avvicinandosi ad essa si potevano vedere minuscoli mondi cristallini esagonali formarsi nei fiocchi, con all’interno microscopiche montagne, foreste, fiumi e laghi.

Le sette Donne erano estasiate da quella meravigliosa magia e chiesero alla fanciulla di poter conservare l’Acqua della ciotola per portarla nelle loro terre e versarla nei loro fiumi, cosicché anche questi si riempissero di cristalli iridescenti. CantaNeve fu entusiasta di questa richiesta e insegnò alle Nonne come fare per ricreare quell’Acqua fatata quando stesse per finire. Dovevano allungare la vecchia Acqua cristallina con dell’Acqua nuova presa da una sorgente pura. E in questo modo tutta l’Acqua si sarebbe riempita di micromondi cristallini.

Le Nonne stettero un po’ in silenzio ascoltando il suono degli alberi e della notte. Poi una di loro fece cenno alla ragazzina di avvicinarsi e aprì il suo mantello. All’interno delle pieghe, protetta e al calduccio, c’era la Cerva della Regina, che timidamente affacciò il bel muso dorato.

  • Oh – batté le mani CantaNeve – sei qua… che gioia!!! Ora torneremo insieme dalla tua… dalla tua…

E si fermò. Non sapeva come definire la Regina. Non le andava di dire “la tua padrona” poiché istintivamente percepiva che quella parola non era adatta a una creatura così nobile e bella, la quale certamente non poteva avere padroni.

  • La Cerva – le spiegò la Nonna del Nord – è il simbolo della Grande Dea Madre
  • Le sue corna e il suo muso – proseguì la Nonna del Sud – rappresentano il luogo nel quale tutti gli esseri vengono generati
  • Il suo manto dorato – riprese la Nonna dell’Est – è il sole che ogni giorno rinasce e nutre la vita
  • I suoi grandi occhi – fu la volta della Nonna dell’Ovest – sono l’oscurità e il sonno nel quale tutti gli Esseri si rigenerano
  • Senza di lei – aggiunse la Nonna della Terra – la Regina non può governare saggiamente
  • Né può parlare con gli Spiriti Guardiani – specificò la Nonna del Cielo
  • Né può vivere in pace col suo popolo, come rappresentante della Dea Madre – concluse la Nonna Guardiana di quel bosco.

Allora CantaNeve capì quanta fiducia le aveva dato la Regina nell’affidarle un incarico di così grande responsabilità e fu felice e orgogliosa di averlo portato a termine, anche se consapevole di essere stata guidata fin dall’inizio. A pensarci bene non le sembrava di aver fatto poi granché.

Tuttavia La ragazzina non capiva una cosa:

  • Ma perché la Cerva è scappata dalla Reggia? Non le piaceva starsene in quel bel palazzo con la Regina?
  • Non è scappata – rispose una delle Donne – è venuta qua per condurre te da noi. Cosicché tu potessi insegnarci il miracolo dell’Acqua. Ora sappiamo che cantando nell’Acqua possiamo infonderle visioni e creare medicine e magie da inviare alle nostre terre.
  • Grazie Sorellina per questo tuo meraviglioso dono. – disse con affetto un’altra Donna – Ora torna dalla Regina e portale i nostri saluti, giacché anche lei è nostra sorella e compagna.

CantaNeve ringraziò le buone Nonne e si alzò dal suo sgabello. Proprio in quel momento il sole nasceva dietro di lei e illuminava il suo capo come una corona. La fanciulla salutò e si allontanò verso la slitta, accanto alla Cerva che le si era docilmente messa al fianco. I cani la stavano aspettando e la riportarono alla Reggia con il prezioso frutto della sua ricerca.

La Regina entusiasta e riconoscente le fece un dono: una bellissima mela rossa. CantaNeve la guardò come chi non capisce bene ma la Regina, prevenendo le sue domande, le spiegò:

  • Questa è la MELA DELL’ALLEANZA, sorellina. E’ una mela magica che serve a creare amicizia e solidarietà tra tutte le Donne. Te la affido affinché tu la custodisca tra le tue mani e vicina al tuo cuore. E, quando verrà il tempo, tu potrai a tua volta donarla a un’altra Donna, raccontandole questa storia. E lei a sua volta la donerà a un’altra e poi quest’ultima a un’altra ancora e così via. In questo modo, tutte insieme, grazie a questa mela, creeremo un grande cerchio di Donne, che in tutta la terra danzeranno insieme e vivranno in pace coi loro figli, padri e mariti.

CantaNeve era felice, corse a casa per raccontare la sua incredibile avventura alla sua mamma. Il sole ormai splendeva e la Regina, sollevata, osservò con benevolenza, dalla grande finestra della reggia, la ragazzina correre verso est, dalla sua mamma, con la mela in mano. E mentre accarezzava la sua amata Cerva di nuovo a casa, la Regina si accorse che la bestiola era incinta.

Scarica il libro completo da questo sito

Cc Devana 2016

 

Pagina 2 di 3

Powered by WordPress & Tema di Anders Norén